Não sendo escritora, que me suscite grande interesse - li-lhe alguns romances na época dourada dos livros de bolso nos anos sessenta e setenta - não deixa de me interessar a personalidade de George Sand como mulher ousada, que soube encontrar estratégia expedita para assegurar a sua emancipação. Até porque, tendo sido casada aos dezoito anos com um barão grosseiro e inculto, ela não demorou muito tempo a assimilar a infelicidade em que, com ele, mergulhava, logo tratando de encontrar nalguns amantes a descoberta de alternativas mais do que oportunas.
Essa abertura para um mundo bem diferente do das entediantes festas nos salões parisienses aconteceu nos Pirenéus Atlânticos, não muito longe de Lourdes, quando se hospedou com o marido e o filho de dois anos numa pensão da vila termal de Cauteret onde a sua saúde poderia recuperar da neurastenia de que dava mostras.
Depressa se enfadando dos convivas das nascentes de água quente da região, ela arranjou forma de nelas deixar o tosco Casimir, passeando a pé ou a cavalo pelas montanhas. Num desses passeios conheceu Aurélien, um jovem magistrado local, que lhe deu a conhecer algo mais aproximado do que conjeturara ser o ideal amoroso. Depressa dele se enfadou, acabando por concluir que os amores duradouros não estavam talhados para si, muito embora, bem mais tarde, o nutrido com Chopin ainda assim tenha-se estendido por nove anos.
Para se sustentar, sobretudo, depois de se livrar do conjugue oficial em 1836, começou a publicar livros a um ritmo acelerado, tornando-se numa das mais bem sucedidas autoras da sua época. Nalguns deles as montanhas pirenaicas serviam de cenário para a narração de sonhos amorosos quase sempre impossíveis.
Um breve documentário dedicado a Cauteret e às zonas circundantes dão conta da atração dessa mulher admirável, que ali chegou pela primeira vez em julho de 1835 na pele de Amandine Aurore Dupin, a convencional baronesa de Dudevent, e ali se converteu na irreverente George Sand, que, além de amores tidos como ilícitos, manifestou uma declarada preferência por trajar de calças.
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