quinta-feira, abril 22, 2021

(C) Os plásticos: uma doença planetária

 

O Sétimo Continente costuma ser designado como o que resulta da acumulação de plásticos nos grandes oceanos do mundo. Atualmente existem cinco zonas de concentração particularmente intensa desses resíduos, distribuídas pelo Pacífico, pelo Índico, pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo. E embora quase invisíveis - na grande maioria têm entre 1 e 5 milímetros - são absorvidos pelos peixes, que, segundo estudos recentes, tenderão a ser em menor quantidade do que tais poluentes por volta de 2050.

A nossa dependência do plástico surgiu no século XIX, associada à Revolução Industrial. Em 1862, durante a Exposição Universal em Londres, foi apresentada a primeira moeda em plástico como um dos grandes avanços prometidos para o futuro que se seguiria.

Em 1933 nasceu o polietileno, que ainda é hoje, o plástico mais consumido a nível mundial, porque dele são feitos os sacos e as garrafas de refrigerantes. Cinco anos depois a Dupont inventou o nylon, que não tardou a substituir a seda e o algodão na composição da roupa interior feminina.

A partir de 1945, o plástico, fabricado a partir de hidrocarbonetos, desenvolve-se em paralelo com a sociedade de consumo. A partir de 1960 a indústria petroquímica acelera a produção desses materiais ligeiros, fiáveis, sólidos, higiénicos, coloridos e modernos, profusamente utilizados pelo design e pela moda.

O crescimento exponencial da produção acelerou-se já neste século, em vinte anos com um total muito superior à  quantidade comercializada até então. Em 2018 produziram-se 400 milhões de toneladas de plástico para mobiliário, janelas, pneus, vestuário, brinquedos ou cartões de crédito numa utilização transversal a todo o planeta. A China é onde a procura mais se acentua com 30% de todo o plástico produzido mundialmente, seguida da América do Norte com 18% e da Europa com 17%. Segundo a WWF, a produção mundial continua a crescer prevendo-se que chegue a 550 milhões de toneladas em 2030  graças a países emergentes apostados em recuperarem o atraso em relação aos mais desenvolvidos, Na Arábia Saudita, em Jubail, está em construção a maior fábrica petroquímica do mundo destinada a satisfazer a procura do mercado asiático. Segundo a Agência Internacional de Energia em 2050 o petróleo destinar-se-á preferencialmente à produção de plástico em detrimento da movimentação dos automóveis e dos aviões.

Dejetos plásticos acumulados chegam hoje a 6 mil milhões de toneladas, que foram produzidas desde 1950, metade das quais provenientes das nossas embalagens num tipo de utilização que varia entre alguns dias e um ano  como expressão da sociedade do desperdício. Os países mais desenvolvidos produzem 47% desses desperdícios, enquanto os emergentes (incluindo a China) ficam-se pelos 35%, cabendo os 18% restantes aos países menos desenvolvidos. Razão porque muitos dos que mais poluem exportam os resíduos para outros países como a Malásia, o Vietname, a Tailândia, a Indonésia ou as Filipinas.

Não havendo meios, nem tecnologias para reciclar uma tão vasta quantidade de resíduos,  acabam em mastodônticas descargas a céu aberto, A partir de 2019 a Conferência de Basileia deu aos Estados o direito de recusarem os fluxos de plásticos não recicláveis para os seus territórios.

Esse avanço na legislação internacional não impede que, anualmente, se acumulem 100 milhões de toneladas de plásticos não recicláveis, que acabam por poluir a Natureza, em boa parte os oceanos, que vão ficando cada vez mais poluídos. Embora não se possa ignorar os efeitos no ar que respiramos, nos alimentos que comemos, ou na água dos rios, que bebemos. Em suma é toda a biodiversidade, que está a ser afetada!

Uma das soluções para o problema passa por aumentar a reciclagem, que já chega a mais de 50% nalguns estados europeus, mas ainda está abaixo dos 30% em Portugal. Mas, porque o preço do petróleo se mantém muito baixo, o custo dessa operação é mais elevado do que o de produzir novos plásticos. No futuro importa criar plásticos mais duradouros numa economia do tipo circular.

Outra estratégia passa pelo recurso à fórmula do poluidor-pagador, impondo impostos às multinacionais mais comprometidas com o problema como são os casos da Coca Cola, da Pepsico, da Nestlé e outros gigantes do agroalimentar. Tanto mais que estas empresas andam a substituir as garrafas de vidro com tara nos países africanos pelas de plástico. Em 2019 a Comissão Europeia aprovou uma diretiva que impõe taxas a essas empresas para pagarem em parte os custos dos aterros.

A terceira solução passa por reduzirmos o consumo de plásticos, mormente dos sacos, que já estão proibidos por exemplo no Ruanda, no Quénia e em Marrocos. A China, o Canadá e a União Europeia estão a tomar medidas progressivas nesse sentido, tendo por objetivo alcançar uma redução de 40% no consumo de plásticos até 2030.

Há, pois, uma crescente tomada de consciência quanto à necessidade de reduzir o consumo do plástico, mas a pandemia fez regredir essa dinâmica com a necessidade de utilização de máscaras e outros meios de autoproteção, que andam a surgir abundantemente nas nossas praias.

Sem comentários: