segunda-feira, abril 26, 2021

(DIM) A alma perdida dos Rolling Stones

 

Nunca fui fã dos Rolling Stones. Talvez porque, até hoje, sempre olhei para a vida como a oportunidade para ter tantas satisfações quantas as possíveis, não se justificando o brado irreverente e, reconhecemo-lo!, gratuito com que Mick Jagger proclamava o contrário. Por outro lado nunca defendi o primado do sexo sem Amor, a excelência dos estados alterados pelas drogas que me impedissem um olhar lúcido sobre a realidade ou o rock’n roll, que sempre preteri em favor da folk  de intervenção (Pete Seeger, Woody Guthrie) e, a seguir da world music, até desembocar na música clássica, quando ganhei maturidade para tal.

De qualquer forma o fenómeno dos grandes nomes do rock desaparecidos aos 27 anos sempre me sugestionou, quanto mais não seja por ter tido um amigo de adolescência, que fez da morte de Jim Morrison uma tragédia tão pessoal que, ainda assim, me pareceu absurdamente exagerada.

Foi com a maior abertura de espírito que me pus a ver o documentário de Patrick Boudet dedicado a Brian Jones, criador da banda londrina em 1962 tendo convidado Mick Jagger e Keith Richards para se lhe associarem num projeto influenciado pelo blues e reverenciador de um êxito de Muddy Waters (“Rollin’ Stone”).

Foi, igualmente, quem conotou o grupo com a imagem sulfurosa de «maus rapazes» apesar de ter nascido numa família o mais convencional possível com o pai como engenheiro eletrónico e a mãe como pianista. As notícias escandalosas a seu respeito depressa surgiram na imprensa, antecipando-se às que viriam a ser protagonizadas pelos cúmplices musicais. As drogas e o álcool em excesso justificaram as visitas às esquadras de polícia embora a queda no abismo tenha resultado de uma traição de Keith Richards, que aproveitou a sua hospitalização com um ataque de asma para lhe surripiar a namorada, uma modelo alemã por quem sentia uma paixão avassaladora. Mas, nesse ano de 1967, embora sentissem-no imprescindível na banda, porque era exímio intérprete em diversos instrumentos - guitarra. sitar, marimbas, flauta, acordeão - Jagger e Richards já estavam a levar por diante a estratégia golpista dentro do grupo, que o levasse a saltar para fora da carruagem.

Inadaptado ao circo infernal da cena rock, a descida aos abismos não conheceria travão, sendo previsível o desenlace ocorrido em 3 de julho de 1969, quando apareceu morto na piscina da sua casa. Seria o trágico fundador do clube dos 27, logo seguido por Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e, mais tarde, por Kurt Cobain e Amy Winehouse.

Neste percurso biográfico a imagem dos demais Stones não sai particularmente favorecida, mas, quanto à música, convenhamos que Brian Jones nada compôs ou interpretou que me possa agradar nesta altura da vida...

 

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