segunda-feira, agosto 24, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: O cinema de Asghar Farhadi

Se tivesse de escolher a vintena dos melhores filmes, que vi nos últimos cinco anos, «A Separação» de Asghar Farhadi teria necessariamente de constar de tal lista. Porque, embora aparentando ter tudo a ver com a realidade de uma classe média iraniana incompatibilizada com o regime teocrático dos aiatolas, consegue ter um alcance mais universal do que a maioria dos filmes rodados nas sociedades ocidentais a que estamos vinculados.
O ponto de partida é o de uma família quase de malas feitas para voar em direção ao exílio. Simin e Nader têm um estatuto cultural e financeiro, que lhes permite encarar com otimismo a integração numa sociedade mais aberta, onde a filha adolescente, Termeh, se possa emancipar.
O problema é declarar-se a doença de Alzheimer no pai de Nader e este teimar em ficar.
Para Simin a decisão do conjugue é vista como uma traição às expetativas entretanto criadas, e mantém a intenção em partir com a filha. O divórcio acaba por ser a alternativa indesejada, mas imprescindível ao seu intento.
Mas Nader não terá apenas problemas conjugais a resolver: a empregada que contrata para cuidar do pai é Razieh, pertencente a uma classe desfavorecida em recursos económicos, mas com preconceitos a mais: além de se fazer acompanhar pela filha pequena, ela é casada com um sapateiro deprimido, que vem ajustar contas com o patrão da mulher, ao compreender a situação de a ter tido a trabalhar na casa de um homem divorciado.
Além de contar com interpretações irrepreensíveis, Asghar Farhadi tem um argumento que prende a atenção do espetador desde o primeiro momento, graças a um sentido do detalhe em que as questões da mentira e da justiça se enquadram nos antagonismos entre classes, entre conjugues e, até, entre pais e filhos.
Numa entrevista, o realizador explicava que a Separação do título era bem mais do que a de um casal ou a verificada entre classes sociais: “É a separação que cada um traz em si, entre o que é o que deseja ser. Trata-se do que separa os seres humanos dos seus sonhos”. 

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