Há uns anos apostava fortemente em valter hugo mãe para vir a ser o grande escritor português deste século XXI. «O remorso de baltasar serapião», «o apocalipse dos trabalhadores» ou «a máquina de fazer espanhóis» sugeriam uma escrita original e histórias tanto mais interessantes quanto atentas às circunstâncias sociais em que se inseriam.
Ao ser galardoado com o Prémio José Saramago, via-se muito justamente reconhecido pelo nosso Nobel, que teve para com ele palavras bastante elogiosas.
Aconteceu então o que não esperava: primeiro com «O Filho de Mil Homens» e, mais recentemente, com «A Desumanização», valter hugo mãe entrou numa nova fase em que as personagens já pouco têm a ver com a identidade lusa, porque ambicionam atingir o patamar da universalidade.
Desconheço se isso teve algum efeito, mas o reconhecimento público que valter passou a conhecer no Brasil parece tê-lo influenciado no sentido de uma «paulocoelhização» acelerada. E por isso os seus livros passaram a ser muito menos interessantes.
A cereja em cima do bolo aconteceu, porém, há alguns dias atrás, quando o instaram a comentar a atualidade política e, nomeadamente, as escolhas eleitorais que em breve se tomarão. Resposta do escritor: não se interessa pela política cá do burgo, que lhe parece coisa de somenos importância.
Estamos, pois, esclarecidos: esse tipo de resposta tem normalmente uma conotação e não é propriamente a de querer mudar o que de tão dramático está à vista de todos. Conhecemos bem a quem servem os supostos apolíticos!
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