Em março de 2015 foi estreado um documentário de Tarryn Lee Crossman, que causou séria controvérsia na África do Sul, porque mostra o quotidiano de uma dúzia de adolescentes num campo de treino da extrema-direita comandados pelo inequívoco coronel Jooste.
Vinte e um ano passados sobre o fim do apartheid, a comunidade africâner continua a não aceitar as transformações ocorridasno seu país. E criou o sonho de ter preparados, e em estado de prontidão, um conjunto de jovens já manipulados para servirem de carne para canhão às pretensões dos que jamais se quererão integrar numa comunidade multirracial.
Os jovens aliciados para aquela experiência, ou os que foram para ali mandados pelos pais - também eles segregacionistas! -, vão passar por enormes dificuldades. Porque Jooste, e os seus colaboradores, fomentam uma subcultura assente na disciplina rigorosa, na obediência aos chefes e no ódio aos negros.
A maioria deixa-se embalar nesses discursos, vendo na maioria da população sul-africana uma menoridade mental e de inteligência, em que quer acreditar. Além de muito deverem à inteligência, os negros seriam todos uns ladrões e uns violadores. Mas também sobra quem não ache nenhuma graça à queima e substituição da bandeira por outra e anseie visivelmente por ver chegados ao fim os nove dias de sacrifício. Porque o mundo mudou bem a sério e os instrutores deixaram-se ficar agarrados a um tempo em que se sentiram felizes.
Na maioria, os jovens, que testemunham para o filme as impressões das suas vivências, trazem um passado complicado atrás de si: por exemplo Deon, um dos que mais vezes surge no ecrã, anda a esconder dos pais a evidente homossexualidade reprimida. Outro esteve a consumir drogas duras até dias antes e quer agora expiar as faltas, mediante a aplicação inquestionável aos exercícios. Dois irmãos não aguentaram o sacrifício e pediram ao pai para os vir abreviar desse ensino sobre como «serem homens».
Ao fim de setenta minutos podemos interrogar-nos quanto ao número de quantos perfilham uma doutrina tão controversa. Porque, embora os sonhos de independência num pequeno território totalmente ocupado por população branca, mais pareça um sonho do que a realidade tangível, não podemos deixar de sentir alguma afinidade com quem persegue sonhos quixotescos, mesmo sabendo-os cada vez mais impossíveis de concretizar...
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