É claro que não precisei da crítica arrasadora de Luís Miguel Oliveira no «Público» para nem sequer ter encarado a possibilidade de ver «O Pátio das Cantigas». Mesmo sabendo andar por ali Miguel Guilherme a fazer de António Silva e acreditando-o capaz de ombrear em talento com o ator da versão original.
Vamos lá ao que interessa: quase todo o cinema do Estado Novo, entre 1933 e o início das guerras coloniais, foi produzido e distribuído com a intenção de distrair os portugueses da realidade das lutas de classes, quer internas (com a realidade brutal das prisões do regime, entre as quais a do tenebroso Tarrafal), quer externas (com as guerras antifascistas em Espanha e nos cenários da 2º Guerra Mundial).
Sob o comando de António Ferro e de António Lopes Ribeiro, o cinema português celebrou as virtudes do campo contra os pecados citadinos, subalternizava a mulher no seio da família, impunha a colaboração entre as classes - com os doutores a casarem com as costureirinhas -, e punha as criancinhas a recato sob um cartaz com o nome do ditador.
Conseguiam ter piada? Alguma, nos casos mais bem conseguidos! Mas, para além das graçolas inócuas para gáudio dos palecos, o que mostravam do que era a crua realidade da vida da maioria dos portugueses nessa época?
Agora, não é por acaso, que gente oportunista tenha vislumbrado encher plateias à conta desses êxitos do passado. No fundo, se as versões originais convinham a salazar, as suas remakes entram coração adentro no projeto de passos coelho em adormecer os eleitores com a mesma transfiguração da realidade dos nossos dias, pintando um país de cores, que ele notoriamente não tem.
Hoje, mais do que distrair os portugueses do que sentem na pele, importa despertá-los para a responsabilidade em servirem de agentes de mudança!!!
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