Será «Regresso a Casa» um filme tão desprovido de qualidades como certa crítica defendeu aquando da estreia do filme no mês transato?
O politicamente correto manda dizer mal de quem se deixou conotar com o regime de Pequim, parecendo abandonar a irreverência de tempos idos. E, de facto, Zhang Yimou pôs-se a jeito ao aceitar a direção dos espetáculos de abertura e de encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim. Mas não se ouviram, então, elogios enfáticos à conceção de tão impressionantes movimentações de milhares de figurantes e do recurso a meios videográficos tão encantatórios?
Há motivos de interesse mais que justificados se quisermos ser objetivos para com este melodrama sobre um velho opositor ao regime, que regressa do campo de trabalhos forçados e reencontra a filha que o traiu, e sobretudo a mulher incapaz de o reconhecer, apesar de se manter fiel ao amor àquele que, há muito tempo partira. Convenhamos, que há aqui uma explicita condenação aos métodos mais autocráticos do regime, quando atingiu a dimensão mais aguda do delírio ideológico em que se sustentabilizava.
Então de que acusam Zhang Yimou? Em primeiro lugar por explicitar a capacidade técnica, mostrando-se competente na gestão da carga emotiva suscitada pelas relações entre as personagens. Depois, há quem não tenha gostado da cuidada fotografia de quase todo o filme.
Mesmo não sendo título tão indiscutível quanto alguns outros dos realizadores da sua geração, Zhang Yimou demonstra razões bastantes para continuarmos atentos à sua filmografia.
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