William Faulkner escreveu »Na Minha Morte», quando estava a trabalhar numa central elétrica e ia transportando carvão para as caldeiras.
Em seis semanas construiu aquele que é tido como um dos livros mais sugestivos do século XX por constituir um exemplo notável da riqueza e da complexidade adquiridas por Faulkner em apenas quatro anos: entre «A Recompensa de um Soldado», que escrevera em 1926, e este romance apenas tinham decorrido quatro anos.
Na viagem da família Bundren para enterrar o cadáver da matriarca em Jefferson, enfrentando a fúria das águas e do fogo, temos quinze personagens a darem as suas diferentes perspetivas sobre o que vivem, mesmo que todas elas influenciadas pelo monólogo da moribunda que acusa a linguagem de fonte de todas as alienações, preferindo a comunicação pelos olhares. Por isso, apesar de muitos diálogos, toda a intriga parece mergulhada numa espécie de silêncio onírico, povoado de evocações sulistas, da violência das paisagens e da vertigem cataclísmica dos fenómenos naturais.
Perante tudo quanto o condiciona, o ser humano sente-se minúsculo, incapaz de conseguir a concretização das secretas aspirações, que justificavam a participação no esforço coletivo dos demais membros da família.
Faulkner explicaria que o título decorria de um verso da Odisseia de Homero na sua versão inglesa: "As I lay dying, the woman with the dog's eyes would not close my eyes as I descended into Hades". E há algo de errância caótica no percurso até ao cemitério de Jefferson.
Mais sintético, Jean Louis Barrault considerou estarmos perante teatro no seu estado primitivo.
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