Provavelmente hoje será o dia em que ocorrerá o concerto mais importante do ano em palcos nacionais: será no Coliseu de Lisboa e terá como protagonistas os Kraftwerk. Seguindo-se amanhã o concerto no Porto.
E, no entanto, só há sete ou oito anos dei ao grupo alemão a relevância, que já lhe era então reconhecida internacionalmente. O estímulo aconteceu na Gulbenkian com uma vídeo-instalação do Noé Sendas intitulada «We are not the robots», que tinha por leitmotiv um dos mais conhecidos temas dos finais dos anos 70.
Claro que conhecia-lhes esse e outros títulos, mas arrumava-os na mesma gaveta mental onde já estavam os «Can» ou os «Tangerine Dream», outras formações alemãs dos anos 70, cuja sonoridade me fora assaz agradável.
A caução da respeitável instituição da Avenida de Berna foi determinante para dar atenção a quem considerava os Kratwerk bem mais do que um mero grupo musical, integrando-os na classificação de obra de artistas conceptuais, ou não fossem os seus temas autênticas pinturas musicais associadas a imagens e à performance dos seus intérpretes.
Para o influente crítico Paul Morley eles revelaram-se bem mais influentes na música popular das últimas décadas do que os Beatles devido a essa relação estreita entre a música e a componente visual, que justificou o convite dos mais importantes museus do mundo para que deles fizessem exposições de referência.
O percurso do grupo iniciara-se na viragem dos anos 60 para os 70, quando a juventude alemã procurava dissociar-se dos fantasmas do nazismo e orientara-se para o desejo de um outro tipo de sociedade. Para Rolf Hütter e os seus companheiros a resposta traduzia-se na música pós-humana, que começaram a criar na sua relação simbiótica com as máquinas. Eram sons que sinalizavam um novo futuro dominado pela tecnologia onde seria possível conjeturar uma relação harmoniosa, serena e funcional entre o homem e a máquina, entre a arte e a vida quotidiana.
Desde então os Kraftwerk passaram a ser vistos como intemporais, austeros e misteriosos, cada vez mais admirados pelo conceito de atuações ao vivo em que as vozes robóticas se passaram a interligar com a manipulação dos equipamentos informatizados pelos seus criadores.
Reconhece-se-lhes igualmente o papel de anunciadores de um futuro iminente: quando publicaram o álbum «Computer world» em 1981, os Kraftwerk ainda nada sabiam da criação de computadores pessoais que a IBM estava prestes a anunciar para revolucionar o mundo moderno da forma como hoje sabemos. E ainda os ecologistas estavam reduzidos a pequenos grupos de excêntricos, quando alertaram para os perigos da energia nuclear em «Radioactivity» (1975).
Teremos, pois, um excelente concerto em 3D a que, infelizmente, não poderei comparecer, porque outros valores mais altos se alevantam. Mas que terei muita pena, lá isso tenho!
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