À medida que vou envelhecendo confesso uma paciência cada vez mais diminuta para quanto não me dá propriamente satisfação.
Este documentário é disso um bom exemplo: até há não muito tempo seria capaz de dedicar hora e meia da minha atenção para aprofundar o conhecimento sobre a vida caótica de William S. Burroughs cuja notoriedade se deve à liderança conceptual da Beat Generation com Ginsberg e Kerouac tendo na droga e no sexo os seus estimulantes criativos.
Mas se a personalidade do escritor afigura-se-me execrável e a sua obra quase intragável, valerá a pena ceder à obrigação de melhor o conhecer apenas porque é tido como um dos maiores escritores norte-americanos do século XX? Prevejo que doravante terei uma disponibilidade cada vez mais diminuta para este tipo de informação.
Posso reconhecer que David Cronenberg conseguiu que a sua adaptação de «O Festim Nu» me desse alguma satisfação. O que não colide com essa antipatia visceral contra Burroughs, cujo egoísmo estava associado a todas as opções de vida, que foi tomando na sua longa existência.
Ele surge-me como o chefe-de-fila de uma geração, que pode ter-se rebelado contra o puritanismo dos concidadãos brancos, de raiz anglo-saxónica e protestantes, mas nada do que escreveu significou algo de palpável contra um capitalismo em vias de se tornar ainda mais voraz e um imperialismo cada vez mais agressivo. Pelo contrário, Burroughs, Kerouac ou Ginsberg estavam tão virados para os seus próprios umbigos, que quase só lhes interessavam os efeitos alucinogénios com que julgavam mais acessíveis os estados alterados das respetivas perceções.
Burroughs estivera, igualmente, envolvido num caso mal esclarecido de que resultou a morte da mulher e o abandono do filho de ambos. Mas não fora necessário esse episódio, que ele sempre classificou de acidental, para que muitos dos que o conheceram o descrevessem como alguém de intratável…
O documentário de Yoni Leiser aborda tudo isso e não será por ele que ficaremos a apreciar melhor um escritor sobrestimado devido aos escândalos em que se envolvia. Porque, na realidade, quem hoje ainda tem paciência para ler páginas e páginas de onanismo literário?
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