sábado, abril 18, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: Eddie Marsan num filme em que faz de protagonista

A primeira vez que Eddie Marsan me chamou a atenção foi num pouco conhecido mas agradabilíssimo filme de Mike Leigh - «Happy-go-Lucky» - em que fazia o papel de um instrutor de condução, que procurava ensinar a maravilhosa Sally Hawkings a conduzir.
Não quer dizer que já não tivesse aparecido em inúmeros filmes, que anteriormente tivesse visto, mas ele tem o rosto e o aspeto físico capaz de garantir uma carreira apreciável em papéis secundários, que raramente nos ficam na memória.
No entanto estreou-se agora em França um filme de 2013 em que faz o papel principal: em «Still Life» de Uberto Pasolini  ele é John May, modesto empregado de uma empresa cujo negócio consiste em encontrar a família de quem morreu sozinho em casa. Como é frequentemente mal sucedido vê-se na contingência de assistir sozinho aos enterros desses solitários para os quais chega a preparar elogios fúnebres personalizados.
Ele próprio tem razões para se identificar com os “clientes”: vive sozinho num modesto apartamento nos subúrbios de Londres, ritmando os dias pelo pequeno almoço sempre igual constituído por uma chávena de chá, uma caixa de paté e uma maçã laboriosamente descascada.
E não é difícil encontrar similitude entre esse John May e o próprio Eddie Marsan, que o interpreta, pois também ele se revela discreto, meticuloso e apaixonado pelo que faz.
Numa entrevista recente o ator confessava: “para mim, ser ator é como ser músico. Faço parte de uma orquestra: uma vez que te sentas com outros músicos, todos trabalham em conjunto. E isso sucede, estejamos em Londres, Paris ou Los Angeles”.
As suas feições comuns - o nariz achatado, o rosto largo, os olhos azuis - já lhe permitiram trabalhar com alguns realizadores de referência nos últimos vinte anos:  Mike Leigh, Martin Scorcese, Michael Mann, Terrence Malick ou Alejandro Gonzalez Iñarritu. Foi aliás com o papel oferecido por este último em «21 gramas» - o do reverendo - que se lhe abriram as portas para o cinema americano.
Nesta altura ele está em  Los Angeles a rodar mais uma temporada da série «Ray Donovan em que faz de irmão mais velho do protagonista e segue sempre o seu método: “gosto de me levantar cedo, ficar sozinho a fazer meditação, concentrar-me e tomar o pequeno almoço antes de iniciar o dia de trabalho”.
E é lúcido nos seus limites: “não sou uma estrela de cinema. Sou um ator, é esse o meu trabalho. E os realizadores precisam de tipos como eu com quem possam contar, para que se concentrarem nas vedetas que, essas, precisam de muito mais atenção. (…) Se eu tivesse outro rosto, nunca teria tido esta carreira. Se os homens quisessem ser como eu e as mulheres sonhassem dormir comigo até é possível que tivesse sido uma dessas vedetas. Mas só a minha mulher é que aceita deitar-se comigo e, eu próprio, não gosto de ser quem sou.” 

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