Vimos no texto anterior, que andamos a acompanhar um tipo de autor inimaginável nestas páginas: um frequentador assíduo dos programas da Fox News onde costuma dar asas à sua visão ideológica mais do que conservadora. E, embora o criminoso do livro tenha características bastantes para o execrarmos, é notório o fascínio que exerce em quem o criou, como se dele fosse um alter ego pouco apresentável, mas notoriamente mais interessante do que a versão normalizada com que tem de se conformar.
Basta ver a preocupação do psicopata em não causar sofrimento às suas vítimas: “Não estava zangado com estas pessoas. Nada de excessos nas matanças. Primeiro põe-nas a dormir com clorofórmio. Quer matá-las, mas não quer que elas sofram. (…) E só disseca uma área do corpo. De modo limpinho e impecável” (pág. 20)
E porque esse West Crosse é um arquiteto demasiado cioso da perfeição das suas obras, o autor cola-lhe uma antipatia quase visceral pela escola de Bauhaus e as que lhe seguiram as pisadas: “Alimentados por uma visão socialista e anti burguesa do mundo, não viam razões para o conforto das criaturas, não via espaço para indulgências como tetos de abóboda, molduras em cora, colunas, cornijas, janelas panorâmicas, revestimentos, plantas ou tapeçarias. Nem sequer havia necessidade de cor. Tal como Le Corbusier afirmara, ‘a casa é uma máquina para habitar’”. (pág. 26)
Procurando identificar quem anda a assassinar e dissecar pessoas pertencentes ao estrato mais endinheirado da sociedade norte-americana, Frank Clevenger vai a São Francisco para falar com Shauna Groupmann, a jovem viúva de uma das vítimas. Surpreende-o a forma relativizada como vive o desgosto da perda, mas depressa compreende o porquê: o casamento era uma fachada, já que Jeffrey era homossexual e aceitava que ela vivesse sob o mesmo teto com David, o seu irmão gémeo.
No entretanto, Frank também já convocara North em seu auxílio: “eram parceiros há sete anos. O tempo suficiente para terem visitado juntos centenas de cenas de criem e morgues, para terem entrevistado sucessivas dezenas de assassinos, violadores, pais, irmãs, irmãos e filhos enlutados, observando-se depois um ao outro enquanto tentavam levar uma vida normal apesar de tudo.” (pág. 44)
Crosse desloca-se, entretanto, a Miami para ser contratado pelo casal Rawlings, que tem uma vasta propriedade no Montana. Antes de para ela lhes criar a casa de retiro pretendida, consegue perceber que Ken pertencera à Fraternidade da Caveira e dos Ossos em Yale e tinha a assistente Maritza por amante.
“Para Crosse, compreender uma família não era realmente diferente de compreender o edifício a que essa família iria chamar o seu lar. Esse lar ou contava uma verdade ou uma mentira. Ou libertava a energia daqueles que viviam no seu interior, ou sufocava-a. Ou era o Bem que presidia aos seus alicerces ou era o Mal.”(pág. 62).
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