Nunca conheci ninguém, que se mostrasse particularmente agradado com os filmes do Manoel de Oliveira. E confesso que, ao contrário dos encómios abundantes ouvidos do dia de ontem, eu não seria daqueles que contribuiria para esse coro tão frequente quando morre alguém com alguma notoriedade e dele só se enfatizam as virtudes, omitindo-se-lhe os defeitos.
Entendamo-nos: a maior parte dos filmes do Oliveira eram chatos, senão mesmo insuportáveis. Nalguns casos chegava a causar comiseração, que parecessem tão toscos, mesmo contando com atores estimáveis como Piccoli, Mastroianni, Lonsdale ou Deneuve.
É claro que não faltou quem agora qualificou de arte aqueles longos planos de vários minutos em que nada parecia acontecer! Mas cinema é que, de facto, não se tratava!
E, no entanto, reconheço aspetos, que justificam a admiração pelo homem, mais do que pelo cineasta. Em primeiro lugar essa energia quase inesgotável, que o estimulou a conceber projetos criativos quase até morrer. Mas, igualmente, a irreverência demonstrada em múltiplas ocasiões, e particularmente memorável num filme da realizadora francesa Agnés Varda em que brincava com ela e se despedia com o típico andar de Chaplin no final de cada filme mudo de Charlot.
Essa jovialidade colava mal com o tipo de questões existenciais e ideológicas incluídas nos seus filmes onde misturava a mundividência conservadora de Agustina com a religiosidade de Régio ou de Claudel. Sem esquecer a estranheza de ter cuidado de episódios históricos - Alcácer Quibir, a viagem de Colombo - mais na lógica absurda de um hermano saraiva do que de algum historiador digno desse nome.
Quer isso dizer que, encerrado provavelmente no Panteão nacional a fazer companhia a Eusébio, a obra de Manoel de Oliveira pode ficar a ganhar pó nas prateleiras da Cinemateca para algumas apresentações espaçadas destinadas a quem já se esqueceu do tédio suscitado sempre que algum dos seus títulos era estreado?
Porventura não! Até defendo que todas as obras que suscitem mais do que a mera indiferença conterão em si algum valor! E por isso mesmo merecerão ser apreciadas com a abertura de espírito de quem se procura dissociar de preconceitos. Nesse aspeto, os filmes de Oliveira têm a vantagem de levantar questões interessantes sobre esta arte de sermos portugueses, muitas vezes mesquinhos e ignorantes (como um figurão ainda a habitar Belém, que se apressou a juntar-se ao coro das carpideiras!) , mas também muitas outras capazes de apostarmos na grandeza de sermos bem maiores do que somos!
Mas trata-se de olhar para os filmes como estímulos à reflexão, e não propriamente um entretenimento jubilatório como tantas vezes precisamos que eles sejam...
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