Nos dois textos anteriores já víramos que Frank Clevenger é um psiquiatra forense convidado a colaborar com o FBI no esclarecimento de um conjunto de crimes perpetrados em diversas cidades americanas e tendo por vítimas pessoas de famílias endinheiradas, todas elas com um órgão do corpo dissecado com uma meticulosidade macabra.
Mas quase toda a investigação de Frank é perturbada com o que está a ocorrer nessa altura a Billy, o seu filho adotivo. Este aparecera alcoolizado e drogado na casa da mãe do seu filho recém-nascido e inspirara-lhe uma reação de pânico. Razão bastante para ser encaminhado para uma casa de correção prisional.
“Clevenger fechou os olhos e deixou a cabeça pender. Estava sempre à espera de ouvir o pior acerca de Billy. Tinha sido assim durante anos: o constante sentimento de uma catástrofe iminente, a batalha constante para trazer luz a uma vida que parecia tender, quase inexoravelmente, para a escuridão. E o que se tem de enfrentar quando se tenta virar as páginas de uma história assente em capítulos anteriores cheios de sofrimento. As crianças são bem menos resistentes do que as pessoas pensam.” (pág. 64)
Enquanto Clevenger tenta minimizar os danos causados por Billy, o psicopata West Cross recebe uma notícia exaltante, quando ainda está em Miami a ultimar o iminente relacionamento profissional com a família Rawlings: o presidente quer contratá-lo para projetar a expansão da Ala Oriental da Casa Branca onde pensa criar um museu destinado a obras de artistas oriundos de países «libertados» pelos exércitos do Tio Sam.
Keith Ablow apresenta o presidente Buckley como uma cópia de george w. bush, com o mesmo conservadorismo radical e a noção messiânica de um mundo dividido entre o Bem e o Mal, que deve ser purificado. Embora procure criar algum distanciamento, o autor do romance não consegue ser bem sucedido nesse propósito, sendo evidente a simpatia com a expressão de um imperialismo puro e duro.
E West Crosse comunga essa ilusão de ser mero instrumento de uma vontade divina: “Acreditava que as famílias que solicitavam a sua ajuda eram direcionadas para ele pela mão de Deus. Acreditava que elas sabiam inconscientemente que a arquitetura das suas vidas era deficiente e que precisavam de um agente da Verdade para as ajudar a reconstruir-se.
O presidente Buckley não era diferente. Intuíra, a um nível para lá das palavras ou do pensamento, que Crosse tinha o poder e a vontade para o ajudar a aperfeiçoar a sua existência. Por que outra razão confessaria que o seu casamento e o seu futuro político estavam a ser ameaçados pela filha retardada?” (pág. 70)
A exemplo do que constatara nos seus crimes anteriores, Crosse detetara nessa filha deficiente mental o obstáculo a que a arquitetura familiar da família presidencial almejasse a perfeição. Urgindo, pois, corrigi-la!
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