Os que o conheceram dizem que sempre viveu na plenitude. Até esta semana, já que a morte o levou aos 89 anos, depois de ter concluído ter valido a pena a Vida quando se conheceu um grande Amor. Por isso não é difícil sentir as palavras do poeta Francisco Brines a virem ao encontro da minha pessoalíssima e atualíssima obsessão. Sobretudo, quando as ouço evocadas pelo Luís Caetano no seu Ronda Noturna, escutadas às escuras na desolação solitária da cama há quarenta e sete dias vazia a meu lado.
Pegando na tradução do José Bento pude descobrir o poema Telefone Negro, que chocou de frente com esta assombrosa realidade porque identifico-me com o vão desejo de ouvir a voz amada, que também a minha reconhecesse. E, “eu sozinho em casa” deparo-me com “a noite ainda mais negra”.
Pelas frestas das persianas “rasga-se a manhã” anunciando a iminente chegada do verão. Cantam pássaros lá fora e, se para o poeta há o não saber se há consolo, em mim o não encontro de modo algum.
Há o desejo do toque do telefone, o ouvir algo do outro lado, mas a surdez impõe-se. E a certeza de ter que falar, Mas como, “se não saem também sons da minha boca”?
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