O desaparecimento de Julião Sarmento foi uma surpresa, porque não o sabia doente. Daí ter replicado a surpresa de José Guimarães a quem foi pedido testemunho a respeito do colega de profissão, que tanto de si se diferenciava, mas também encontrara forma de se afirmar internacionalmente à escala global. E, se nunca me entusiasmei, particularmente com as obras do artista nos seus diversos suportes, sempre lhe reconheci uma identidade, que facilmente me levava a identificar-lhes a autoria ainda antes de a confirmar como tal. Essa genuinidade muito sua acaba por ser a melhor bitola para se aferir a importância de uma obra no seu todo.
A exemplo de Ângela Ferreira que confessou tê-la incomodado, inicialmente, o aparente machismo com que fazia uso do corpo feminino, também passei por essa desconfiança. Era pela nudez do corpo da mulher, que mais facilmente concluía tratar-se de obra do artista, mas sobreveio o que ia para além dessa intuição e se dispersou por leituras várias, que sempre tiveram o condão de me desafiar, mesmo quase sempre esgotando na formulação a inevitabilidade não ter respostas para as muitas perguntas.
Nas entrevistas fascinava-me a agilidade do pensamento, a pluralidade de sugestões que mereciam reflexão ampla depois de as ouvir. E não duvido de quanto terá sido encantatória a convivência com ele, que era assumidamente hedonista e generoso na forma como dava a mão aos artistas das gerações, que agora lhe tomam o testemunho.
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