terça-feira, maio 18, 2021

Quando a Torre Eiffel não quis mudar-se para Moscovo

 

Um dos poetas cujo destino sempre me comove é Vladimir Maiakovski, mesmo passados mais de noventa anos sobre o seu suicídio. Porque imagino o quão terrível terá sido a desilusão de acreditar que a Revolução Russa iria dar satisfação às mais ousadas transformações sociais bem como às mais inovadoras propostas vanguardistas, para constatar que o estalinismo tudo abafava, transformando a União Soviética numa ditadura completamente às avessas da maiúscula Democracia prometida pelo ideal comunista.

Numa reportagem televisiva descubro o fascínio que a sociedade parisiense lhe causou, sobretudo nessa década de 20 em que, por diversas vezes, se hospedou no Hotel Istria em Montparnasse, aí convivendo com Aragon, Elsa Triolet e outros intelectuais fascinados pelo mundo novo, que se prometia abrir a oriente. Lili Brik, a irmã de Elsa, até lhe suscitaria momentânea paixão, logo correspondida, ou não fosse ele o gigantesco bardo oriundo da terra de todas as esperanças para a promover em saraus poéticos e conferências junto dos que julgavam próximos os amanhãs cantantes.

Encantado com a modernidade Maiakovski tinha pela Torre Eiffel uma tal adoração, que lhe dedicou memorável elegia, humanizando-a e propondo-lhe a fuga adúltera para Moscovo onde entendia bem mais ajustada a existência de um tal monumento ao promissor futuro, que não imaginaria vir a transformar-se num tão doloroso pesadelo.

Insensível à sedutora proposta, a Torre lá continua à beira do Sena a espelhar muitas ilusões perdidas, que a sua orgulhosa verticalidade  poderá dar como sempre resgatáveis em circunstâncias mais favoráveis.

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