quarta-feira, novembro 18, 2020

(S) A águia negra de Barbara

 


O estilo era inimitável mesmo que Jeanne Balibar a tenha replicado com competência num filme recente de Mathieu Amalric. Uma máscara de olhares impressivos e poses esculturais, que se condensavam na silhueta a preto e branco ao teclado do piano. E poemas a ancorarem-na na ferida incurável desde a adolescência, quando ser implicava a impossibilidade de se iludir na mentira sobre o que desconhecia.

Monique Andrée seria Barbara e distanciar-se-ia dos anos da Ocupação quando a família de origem judia buscou na errância a fuga ao que adivinhava tenebroso destino. Passou a guerra e ela ficou fascinada pelo cabaré de Pierre Prévert onde pontificavam Boris Vian, Edith Piaf e Mouloudji. Gostaria de se lhes juntar, mas a realidade foi feita de sucessivos empregos, precários e mal pagos, entre os quais a figuração numa opereta. No casamento com um advogado belga rendido à música francesa buscou alternativa breve, que depressa percebeu dissociar-se do que pretendia da vida. Mas ainda teve tempo para estrear-se com um single onde cantava “Mon pote le gitan” e “L’oeillet blanc”, antes de regressar a Paris e, durante cinco anos, ser a cantora da meia-noite no «L’écluse» interpretando temas de Brel, Brassens e Ferré entre outros. Mas também os seus originais melancólicos sobre a necessidade de ser amada e a pressa de viver num tempo acelerado.

Concertos à pinha, tournées internacionais e cantora de culto para espectadores, que a idolatravam.  Quando a voz lhe começou a falhar ainda cantou o belíssimo “L’Aigle Noire” sobre a ave de rapina, que poderia metaforizar o seu pai violador. Mas replicando a agressividade nos próprios colaboradores que a davam como exigente e narcísica, frequentemente intratável...

 

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