domingo, novembro 15, 2020

(EdH) Islão e islamismos

 


Apresentando uma complexidade, que é pouco percetível a quem é alheio a essa cultura, o Islão não pode ser apenas cingido às suas expressões terroristas, porque também é idiossincrasia adotada por muitos que rejeitam e se assustam com essa violência.

Convenhamos que, enquanto ateu, tanto me é absurdo o ritual de ver gente a percorrer de joelhos a grande praça de Fátima quanto muçulmanos interromperem subitamente o que estão a fazer para se ajoelharem e, em direção de Meca, prostrarem-se para uma das suas cinco orações diárias. E o mesmo valem os hábitos dos crentes de outras religiões, cujo comportamento não passa o crivo da menos exigente racionalidade.

O que não impede que, mesmo quem de deuses não precise, fique alheio ao que se passa com os que neles creem. No caso dos que acreditam em Alá eles constituem quase um quarto (23%) dos que habitam o planeta, ou seja 1600 milhões de seres. Curiosamente só 19,8% estão no Médio Oriente e Norte de África, porque a grande maioria concentra-se no Sudeste Asiático: 61,7%. Depois sobram 15,5% na África Subsariana e uns menos relevantes 2,7% na Europa.

A religião muçulmana apareceu no século VII, quando o condutor de uma caravana disse-se visitado pelo anjo Gabriel e se investiu na condição de «último dos Profetas». Doravante os seus prosélitos mudaram a contagem dos anos, contando o zero a partir do ano de 622, quando Maomé mudou-se de Meca para Medina, perfazendo o que se passou a designar como Hégira.

Morrendo Maomé sem sucessores, a religião muçulmana depressa se seccionaria em divisões que consideraríamos risíveis, mas cujas divergências motivam ódios de morte entre os respetivos seguidores. Depois de Abou Bakr e de Omar, o terceiro descendente de Maomé, Otomão foi assassinado, mas o sucessor, Ali, logo se viu abandonado por numero significativo de crentes, agrupados no chamado Kharidjismo, ideologia apenas cingida, atualmente, ao sultanato do Omã.

Em 661 o assassinato de Ali em Koufá - no atual Iraque - irá dividir os que com ele se tinham mantido agrupados, em dois ramos distintos: os xiitas e os sunitas que, em 680, se guerrearam na batalha de Kerbala. Passados treze séculos e meio os xiitas estão concentrados no Irão, no Azerbeijão e em parte do Iraque, enquanto os sunitas - quase 90% dos muçulmanos atuais - estão disseminados pelo resto da zona de influência da religião. Todos eles comungam da mesma fé no Alcorão, nas cinco orações diárias e na peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida.

O islamismo surge como vertente política da religião pretendendo vergar as sociedades aos princípios do livro sagrado através da imposição da sharia (lei corânica). A Arábia Saudita costuma ser apresentada como o exemplo mais evidente da ortodoxia com o wahhabismo, que rejeita a inovação e exige o cumprimento radical da sharia.

Existem, igualmente, os salafistas, que anseiam concentrar todos os muçulmanos sob uma mesma nação, que designam por Califado. Para tal não têm pejo em adotar estratégias terroristas como se viu com Ossama Bin Laden ou o Daech.

Expressão política não tão dada à violência é a dos Irmãos Muçulmanos, que surgiram no Egito em 1928, sob a inspiração de Hassan el Benna. Mas as tentativas de tomarem o poder mediante eleições, quer na Tunísia, quer no Egito, acabaram por não ser bem sucedidas. Mas continuam muito ativas nesses dois países, bem como em Marrocos ou na Turquia, onde participam ou lideram governos. 

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