Passou por cá a moda de ler Roberto Bolaño e a ela não escapei. Foram vários os romances, que li com algum agrado, muito embora não lhe assegurasse definitiva rendição. Até porque na pedra de toque inerente à escolha entre Vargas Llosa e Garcia Marquez, ele sempre tendeu para o primeiro. Escolha imperdoável! Porque, mesmo reconhecendo-lhe talento literário - sobretudo nos primeiros romances! - Vargas Llosa quase igualou Lobo Antunes na ignomínia, quando se deixou embalar pelo anticomunismo mais visceral.
Em França vive-se, agora, uma segunda onda de bolañice com a publicação das suas Obras Completas. Motivo para que se volte a olhar com alguma atenção para esse percurso literário fulgurante ao longo dos vinte cinco anos em que escreveu e publicou ininterruptamente. A morte precoce, aos 50 anos, leva muitos dos apreciadores a carpirem as obras, que poderia ter ainda produzido e nunca serão conhecidas.
Tido como escritor radical, inscreve-se na tradição borgiana, sem se encontrar com o realismo mágico, que tanto motivou outros autores seus contemporâneos. Era conhecida a sua antipatia por Isabel Allende e outros seguidores de Garcia Marquez, acompanhado de igual sentimento por Pablo Neruda. O que ajuda a dele esclarecer as tendências ideológicas por muito que quisesse aparentar-se apolítico nas narrativas.
Ernesto Sabato é outra influência determinante, dele retendo a presença de um mal subterrâneo, amiúde traduzido na inesperada irrupção de um homicídio no meio da quotidiana banalidade. Como se uma sociedade secreta andasse a preparar um qualquer inferno. Ele poderia subscrever a personagem de um dos seus romances, que desejava investigar o Mal sem que para tal tivesse de mergulhar no esgoto até ao pescoço.
De Vargas Llosa ele recolhe a proximidade temática expressa na violência em todas as formas, mas também na relação ambígua com o país natal e na atenção a tumultos políticos, que se revelam incontornáveis, prevalecendo então uma camaradagem masculina, aliás presente em quase todos os seus romances. Marcados, enfim, por quanto reteve da voracidade com que leu os títulos maiores da beat generation e os clássicos da ficção científica.
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