terça-feira, novembro 17, 2020

(EdH) Será que a réplica substitui o original a contento?


Um Picasso ou um Van Gogh original valem muito mais do que a competente cópia criadas por um falsário. Mas na gruta de Chauvet é isso que se passa: em vez de acedermos às pinturas verdadeiras só as vemos numa réplica recentemente construída e rigorosa na sua total semelhança.

Descoberta em dezembro de 1994 no Ardéche, no sul de França, a gruta de Chauvet–Pont d’Arc possui notável acervo de pinturas paleolíticas, numa época em que não se julgaria poderem ser  tão talentosamente representadas. O que elas vieram demonstrar foi a aptidão artística de populações nómadas, que se presumiriam muito menos sofisticadas nos talentos artísticos. Há, porém o senão: se a queremos visitar temos de nos contentar com a réplica criada à escala natural num museu ali próximo, porque a fragilidade das obras é tal, que o convívio com o dióxido de carbono expelido pela respiração dos escassos privilegiados autorizados a fazê-lo, está rigorosamente restringido a duas horas diárias.

O que justifica a interrogação: será diferente o que possamos sentir na gruta de Chauvet de quanto reajamos à sua fiel réplica na caverna de Pont d’Arc? O facto de sabermos umas pintadas há mais de trinta mil anos sugerem-nos emoções distintas das mesmas reproduções de leões, rinocerontes, ursos ou mamutes, que artistas contemporâneos laboriosamente afixaram nas paredes da sua réplica?

Não tenho resposta para tal! Posso intuir que ver a verdadeira Guernica num museu madrileno implicou um estado de alma muito diferente do que sinto quando a vejo em livros de arte. Ou se me a apresentassem na competente obra de um falsificador. Por isso não sei se terei vontade de visitar Chauvet, contentando-me com os documentários notáveis, que dão conta do seu estudo.

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