Realizado em meados do ano passado, quando as eleições do início deste mês ainda vinham longe, o documentário que a SIC Notícias passou numa destas noites revela o lado mais assustador de uma América trumpista, onde a religião evangélica procura ganhar importância suficiente para impor a sua agenda ideológica ultrarreacionária.
Diabolizando o direito ao aborto, esses brancos veem no ateísmo e no comunismo as expressões de um Satanás contra o qual não hesitam em pegar em armas, organizando-se em milícias dispostas a passarem à ação assim lhes deem a ordem para tal.
É um universo assombroso, que não hesita em utilizar as mentiras mais descabeladas para demonstrar o fundamento das suas opiniões, como é exemplo lapidar o museu dedicado ao criacionismo com o parque temático da Arca de Noé logo ali ao lado. Nesse espaço, que pretende dilatar a percentagem dos crentes na datação histórica da Bíblia em detrimento das certezas científicas a tal respeito, mostram-se Adão e Eva a conviverem com os dinossauros, como se uns e outros tivessem aparecido há seis mil anos nos sete dias particularmente ocupados para um Deus até então entediado. E que dizer do Woodstock cristão a que não faltam os grupos de hard rock cujas letras são completamente opostas às habitualmente associáveis aos que percorrem os circuitos tradicionais? Entre a assistência predominam os adolescentes, que estão convencidos da perversidade do sexo antes do casamento sendo inaceitável que a noiva chegue a essa ocasião sem a sua inviolada virgindade.
Em cinquenta minutos fica exposta em todo o seu sinistro esplendor o que é um país dividido a meio entre estes singulares exemplos de um passado difícil de devolver para as catacumbas da História e uma população citadina identificada com aquilo que a Ciência vai demonstrando.
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