sábado, novembro 14, 2020

(DIM) O labirinto secreto de Namoroka, Jean-Michel Croillon, 2018

 


Estive em Madagáscar há trinta anos e ficaram-me gratas recordações dessa breve estadia. Sobretudo de uma praia de areia branca a perder de vista, onde se chegava de lancha a partir do paquete «Funchal»  havendo que desembarcar e embarcar dando umas braçadas num ou noutro sentido, consoante se pretendia pôr o pé em terra ou dela zarpar. Depois de passagens pelas Seychelles e pelas Maldivas onde a indústria turística ocidental já criara infraestruturas à medida das necessidades dos visitantes, aquela escala acontecia numa praia ainda completamente selvagem, donde depressa os passageiros suíços do navio desapareceram, levados por guias, que lhes prometiam o encontro com os lémures. Nós os tripulantes ficámos ali a esperá-los numa paisagem capaz de nos travar o fôlego.

Na altura desconhecia totalmente a existência de Namoroka, mas não me foi difícil adivinhar, para além das árvores, uma prodigiosa reserva de biodiversidade. Essa grata memória incitou-me a visualização do documentário que Jean-Michel Croillon rodou, há dois anos, no parque nacional situado no noroeste da ilha para acompanhar o trabalho científico da expedição patrocinada pelo Museu Nacional de História Natural de Paris e constituída por vinte e dois investigadores das áreas da botânica, da entomologia e da herpetologia, apostados em descobrirem as espécies existentes nas impressionantes formações geológicas ali formadas há cento e sessenta milhões de anos e a que os naturais chamam tsingy.

Antes da chegada dos cientistas são necessárias semanas de preparação em que a equipa de sessenta assistentes, ajudados pela população, ultrapassa sucessivos obstáculos - pistas impraticáveis, poços secos, campo-base destruído pelos javalis - e procuram criar as instalações onde os cientistas se vêm acomodar. Mas vão dando com espécimes surpreendentes como é o caso de uma árvore alaranjada com 11 metros de altura e nunca antes identificada.

Os objetivos da expedição estão bem definidos: identificar novas espécies passíveis de serem protegidas - e espantosamente só 10% dos insetos eram conhecidos até então! - e estudar as virtudes terapêuticas das plantas. È tarefa urgente, porque a extraordinária biodiversidade de Madagáscar está ameaçada, como o demonstra um incêndio, que destrói dezenas de milhares de hectares do parque, quando a expedição está a concluir os seus trabalhos.

O documentário de longa-metragem vê-se como se de filme de aventuras se tratasse, não só pelo exotismo da paisagem e das populações, mas também pela detalhada descrição das metodologias implementadas pelos cientistas para darem por bem sucedido o seu esforço.

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