sexta-feira, novembro 06, 2020

(DIM) Transit, Christian Petzold, 2018

 


Sucessivos filmes têm-me convencido da importância de Christian Petzold no atual cinema alemão. Em 2012 deu-nos a conhecer (Barbara), o dilema de uma médica da Alemanha de Leste decidida a juntar-se ao namorado no lado ocidental, mas entretanto colocada num hospital de província onde as suas afinidades eletivas começavam a vacilar. Ou, dois anos depois, acompanhávamos (Phoenix) as descobertas de uma mulher que voltava dos campos de concentração sem que o marido a reconhecesse, podendo assim nele encontrar o lado pérfido de que, anteriormente, não suspeitara.

Dilemas morais e questões de identidade também estão presentes em Transit, filme de 2018, que ele adapta do romance homónimo de Anna Seghers. Mas, enquanto nele eram os judeus quem procuravam escapar da perseguição nazi, Petzold situa o filme num futuro indefinido em que existe uma nova ditadura a assombrar a Europa, criando novos campos de concentração e pondo gente em fuga entre Paris e Marselha para, através de subterfúgios diversos, conseguir a garantia da sobrevivência imediata no embarque para a América.

Acumulam-se filas à porta dos consulados, multiplicam-se tráficos de ocasião para aproveitamento indecoroso do medo e precariedade de quem só quer fugir e existe uma atmosfera sombria a replicar a existente na época da Ocupação nazi.

Para o protagonista, disfarçado na identidade de um escritor que se suicidara, o inesperado obstáculo será o da paixão por uma mulher, que quer ficar á espera de quem ambos sabem o impossível reaparecimento.

Se sobram resquícios de humanidade, eles cingem-se à inocência de uma criança ou às contingências de um amor impossível...

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