domingo, novembro 01, 2020

(DL) António da Costa Neves, O Implacável Cerco de Almada, 2017

 


A História de Almada é riquíssima em acontecimentos ou não estivesse a cidade logo na primeira linha do que sucedia no outro lado do rio. Por isso mesmo são quase inesgotáveis as oportunidades para, através da sua abordagem, conseguirmos uma versão complementar do que foi a História de Portugal.

Um desses eventos marcantes foi o do cerco que os exércitos castelhanos fizeram à cidade durante mais de oito meses em 1384, que servem ao protagonista do romance de António da Costa Neves, para amadurecer como se anos tivessem decorrido. Se, de início, ele se nos apresenta como o azougado rebento varão do respeitado regedor de Almada, depressa o vemos evoluir para criador de uma bem sucedida rede de espionagem e de apoio a  quem de Lisboa vem saldar contas com os traidores ao serviço do rei de Castela. Depois, perdido o pai e as irmãs, vê-se único sobrevivente da família  Galo, descontados o tio e os primos, que bem gostariam abocanhar os seus pertences.

Através de personagens ficcionais, focalizados na sobrevivência e nos primeiros rebates com o sentimento amoroso, temos a História em cenário de fundo para recordarmos quão periclitante esteve a independência nacional nos anos subsequentes à morte de D. Fernando e como a peste constituiu inesperada, mas oportuna vicissitude, que facilitou o desenlace por quantos pretendiam eximir-se à subjugação a Castela.

O autor também não embeleza nem romantiza o enredo: nessa altura morria-se com grande facilidade, fosse por efeito das armas, fosse de doença, fosse até de naufrágio. João Galo começa por perder a mãe na sequência de uma inflamação causada por problemas dentários, para logo saber do pai e da irmã mais nova como reféns assassinados pelos invasores, concluindo-se com o desaparecimento da outra irmã e do cunhado numa tempestade, que lhes faz afundar o navio à saída da barra.

Como acontece com tudo quanto à História respeita, é capaz de as coisas não terem acontecido exatamente assim. Mas, como diria o outro, entre a austera realidade e a colorida lenda, não sobram dúvidas quanto à alternativa, que preferimos.

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