Não me é difícil imaginar o respeito com que o escritor terá abordado a floresta no sopé do monte Fujiama.
Ter-lhe-ão contado tratar-se de sítio sagrado onde, após longa maturação, os suicidas vão pôr fim aos seus dias. Sentiu o respeito pela coragem de ato tão nobre, um reencontro com a Natureza de acordo com os credos locais. Sem ponta de desespero, porque imbuído do seu absoluto oposto: o apaziguamento. A consumação de uma vida, que se sentiu como definitivamente vivida.
O escritor não terá sentido qualquer tentação voyeurista. Não imaginou encontrar quem acabara de pendurar-se com um laço no pescoço ou com a lâmina enterrada no ventre a sangrar.
Vergonha terá sido antes o sentimento, que agora confessa ter tido. Porque na condição de ocidental via-se incapaz de entender na plenitude o simbolismo dos que ali se fazem protagonistas da decisão quanto a porem fim aos seus dias. Indiferentes às campanhas lançadas pelas autoridades para os demoverem de tal gesto.
E, por isso mesmo, depois de Angola, onde nasceu, das Caxinas onde passou a residir, ou da Islândia, cujo fascínio lhe rendera um romance, o escritor voltou a sentir que aquele lugar, situado no outro lado do mundo, acabava por lhe dar nova sensação de incompletude, estimulante o suficiente para o colocar na rota de outros tão fascinantes quanto aquele. Na esperança de encontrar o seu próprio Lugar. Ou talvez não, que o interesse de tudo reside mais na procura de o conseguir do que na satisfação de, enfim, o conquistar.
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