Das obras de William Shakespeare esta é uma das peças, que mais prefiro, talvez por a ter abordado pela primeira vez através da belíssima adaptação cinematográfica de Peter Greenaway («Os Livros de Próspero») e da correspondente banda sonora de Michael Nyman.
Escrito em verso e prosa, este drama em 5 atos terá sido criado em 1611, mas só se lhe conheceu publicação em 1623. O autor parece ter sido influenciado pela commedia dell’arte italiana, que teria anteriormente tratado de várias histórias similares e às quais associou os detalhes relativos ao naufrágio de Sir George Somers nas Bermudas em junho de 1609. Existe, ainda, uma outra possível influência de um velho conto espanhol intitulado «La gran conquista del Ultramar y la Historia de Niceforo y Dardano».
«A Tempestade» é obra da fase final da vida do autor e ele volta a fazer uma utilização intensiva do maravilhoso com elfos e fadas a misturarem-se às intrigas dos seres humanos, tal qual sucedia em «Sonhos de uma Noite de Verão», escrita na primeira fase da sua produção teatral.
A história tem como um dos principais personagens o duque de Milão, Prospero, destronado do trono pelo próprio irmão, Antonio, que o fez embarcar em frágil embarcação com a jovem filha, Miranda, na expetativa de não sobreviverem aos perigos do mar. Mas vão parar a uma ilha desértica apenas habitada pela feiticeira Sycorax e seu monstruoso filho Caliban.
Graças aos seus poderes o deposto soberano liberta uns quantos espíritos ali subjugados, entre os quais se encontra Ariel, e toma a criatura defeituosa como seu criado.
Passam-se doze anos e eis que Prospero provoca um naufrágio no outro lado da ilha. Nesse barco vinham o usurpador Antonio, o seu aliado Alonso, rei de Nápoles, e o filho deste último, Ferdinando. É aqui que verdadeiramente começa a história, porque Shakespeare condensou numa só cena a descrição dos factos anteriores, que ocupavam três atos no seu «Conto de Inverno».
A maioria dos passageiros do navio naufragado salvam-se, mas julgam definitivamente perdida a vida de Ferdinando, ele próprio convencido do afogamento dos companheiros. Em compensação encontra Miranda ocorrendo uma paixão imediata entre ambos.
No entretanto Prospero instiga Ariel a assombrar António e Alonso causando-lhes o máximo pavor. Mas, enquanto o primeiro não tem remissão, o segundo arrepende-se dos atos que praticara, reconciliando-se com o velho duque e reencontrando o filho.
Graças à magia o barco naufragado volta a estar operacional nele embarcando todos os personagens à exceção de Caliban, designado novo senhor da ilha. Ao abandoná-la Prospero renuncia à magia desfazendo-se da varinha com que a praticava.
A faceta cómica ao estilo do teatro italiano é assegurada pelas numerosas cenas em que Caliban contracena com o bêbedo Stephano e com o bufão Trinculo, ou mesmo naquela em que ele se tenta revoltar contra o usurpador. Mas entre as cenas de farsas e as dramáticas, que com elas alternam, não subsiste a impressão geral de se estar perante uma comédia. Mesmo se a sombria impressão causada pelos antipáticos personagens envolvidos no naufrágio seja compensada pela loquaz franqueza do conselheiro Gonzalo...
Sem comentários:
Enviar um comentário