Rui Simões será sempre um realizador, que muito considerarei, bastando para tal ter rodado «Deus Pátria Autoridade» ou o making of da produção teatral do Bando para o «Ensaio Sobre a Cegueira».
Este projeto, embora bastante interessante por retratar os desafios hoje colocados ao Bairro Alto com à pressão nele colocada pelos que o procuram como área de diversão noturna ou para aí criar nova oferta hoteleira, incide sobretudo no testemunho de quem ali tem vivido décadas a fio. E nesse sentido entrevista uma diversidade de pessoas bastante representativa do seu tecido social.
Entre o saudosismo de uns (a fadista Gisela João, por exemplo) e a relativização das mudanças por parte do livreiro que lembra já muitas mudanças terem sido vividas no bairro ao longo da sua história, o filme pende notoriamente para o lado dos primeiros. Há a nostalgia de um tempo, que se mitifica, mas já não pode ser recuperado, mesmo sendo óbvia a certeza de, daqui a uma década, nada do que aqui se regista vir a fazer sentido. É que a cidade, como corpo vivo, tem a sua dinâmica incapaz de se deter perante a vontade de quem gostaria congelar o tempo e deixar tudo como ainda está.
Mais do que o filme em si - irrepreensivelmente construído - o «Alto Bairro» é daqueles documentos históricos e sociológicos, que serão sempre essenciais para entender a realidade lisboeta dos nossos dias.
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