A minha opinião sobre os filmes de Werner Herzog tem sido ambivalente: se houve filmes, que muito apreciei (sobretudo «Aguirre»), outros houve, que me deixaram constrangido (o «Grizzly Man», por exemplo). Quanto a «Para o Inferno», como não tenho o Netflix, só o verei por certo daqui por algum tempo, quando ele passar noutros suportes alternativos.
Para quem vota uma quase indiferença às coisas da transcendência, a sua busca contínua pelo ser humano, que Herzog tem perseguido ao longo de meio século de atividade, não diz grande coisa. Não atribuo fulgores místicos ao fogo proveniente do interior da crosta terrestre, que restrinjo à condição de fenómeno científico reconhecidamente impressionante nos seus efeitos e na capacidade para causar devastação em ambientes populacionais. Mas quem já viu o filme elogia a impressionante fotografia, demasiado grandiosa para se cingir aos ecrãs de televisão. Trata-se de filme a ser visto em grandes ecrãs de cinema, com a plateia imersa na escuridão e sem o som de pipocas a serem mastigadas. Mas Herzog não se cinge a tais fenómenos: ele aborda a organização política e social na Coreia do Norte, os rituais das populações do Vanuatu ou os achados arqueológicos de hominídeos em África. Recorrendo à erudição adquirida ao longo de tanta experiência vivida, Herzog convida para uma viagem visualmente exuberante, mesmo que muito discutível nos seus pressupostos argumentativos.
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