Como era Lisboa entre 1570 e 1620 na época em que um rei estarola, convencido pela falácia de estar à frente de poderoso império se decidiu a empreender uma cruzada contra os mouros, acabando por lhes legar dez mil violas ao sol tórrido das areias do deserto? O aspeto da cidade cosmopolita onde se juntavam mercadorias e gentes de todos os continentes foi captado por um pintor nórdico cujo nome já ficou esquecido, mas constituirá o foco da exposição a inaugurar no museu de Arte Antiga em 26 de janeiro depois de ter estado anunciada para daqui a oito dias. As duas telas em causa eram apenas uma na origem, mas o poeta e pintor pré-rafaelita Dante Rossetti ficou tão encantado com o exotismo dos negros nela representados, que não tendo quarto onde a pendurasse decidiu cortá-la ao meio.
Para nós essa capital pré-terramoto continua a motivar-nos grande interesse, como se ela equivalesse a algo de poderoso, que as forças da natureza terão definitivamente destruído. Por isso adivinham-se grandes filas de visitantes nessa nova proposta da instituição das Janelas Verdes, com tudo o que de negativo comportam esse tipo de sucessos: sérios riscos de torcicolos à conta de porfiar na apreciação de uma nesga de quadro por entre a confusão de cabeças à nossa frente.
Por isso bem gostaria que se repetisse aquela iniciativa da Gulbenkian há uns anos quando, numa exposição dedicada a Amadeo, decidiu mantê-la aberta durante toda a noite. É que, diz-me a prática, acaba por ser bastante mais compensadora a experiência de apreciar arte ás quatro da manhã.
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