Nestes dias de distanciamento dos muitos afazeres, que a vida na Grande Lisboa suscita, dei-me ao prazer de ver um filme da série 007, algo que já não fazia há uns quantos anos.
«Spectre», o mais recente dos que têm em James Bond o seu herói, mantém as características do costume: a total inverosimilhança da maioria das cenas de ação ou da mudança de guarda-roupa dos protagonistas, enquanto cirandam sucessivamente na Cidade do México, em Londres, em Roma, nos alpes austríacos, em Tânger e no Norte de África. Há as bond girls - sempre concupiscentes (neste caso marcam o ponto a Monica Bellucci e Léa Seydoux!) e o habitual desenvolvimento da intriga em que, quando parece tudo perdido, ocorre a reviravolta, que faz vingar a inteligência e a capacidade física do agente com ordem para matar.
No caso específico deste filme o argumentista meteu-lhe uma reedição do confronto bíblico entre Abel e Caim, enquanto trata de pôr Bond na pele de um Edward Snowden mais desenvolto contra o controle orwelliano, a que as agências secretas, de mão dada com interesses simultaneamente mafiosos e capitalistas, querem sujeitar toda a Humanidade.
Convenhamos que é demasiada dinamite - há explosões à farta! - para tão pouca substancia, mas o habitual consumidor da marca 007 sentir-se-á confortado com o reencontro de todos os seus estereótipos.
Há, no entanto, a consciência de um envelhecimento da identidade do personagem, que pode, igualmente, ser visto como um cultor do old fashioned contra as modernices digitais.
Fica a sensação de tratar-se de mais do mesmo com tendência para suscitar o tédio, se não mesmo o bocejo. É que, às tantas, as coisas que não mudam acabam por enjoar, sobretudo quando tanta novidade nos apela em cada dia.
No final deste 24º título da série fica a sensação de que, não havendo mais nenhum, o final poderia ser perfeitamente aceite como o do seu conjunto. Porque Bond sai de cena com Léa Seydoux, que o tinha posto na condição de escolher entre ela e a carreira de espião...
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