Data de 2011 o filme que João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata rodaram no Mercado Vermelho de Macau, aonde a população costuma ir abastecer-se de alimentos frescos, eufemismo para designar peixes e aves mortos à frente do comprador, que lhes atesta a respetiva qualidade.
São essas cenas as que levam muitos espectadores a considerarem o filme demasiado chocante para ser visto na totalidade. Deparar com galinhas a ainda a estrebucharem e a quererem saltar do balde para onde as atiraram depois de lhes aplicarem o corte fatal no pescoço ou as contorções desesperadas de uma espécie de enguia cortada ao meio não são propriamente imagens que abonem a favor do turismo macaense. E há igualmente a sujidade com carcaças de porcos a serem esquartejadas no chão por onde todos passam. Ou o caos tão condizente com os hábitos culturais chineses.
João Rui Guerra da Mata desvaloriza essas cenas e refere a intenção de ter pretendido captar as mãos desses magarefes no exercício dos seus misteres. Se esse era o objetivo não lhe dei particularmente importância quando vi o filme, tão impressionado fiquei com as cenas mais impactantes. Não por em si terem um significado digno de nota, mas por só parecerem valer-se da capacidade de incomodarem. Mesmo a mim, que vivi algum tempo em Xangai e dela voltei a considerar a China como sinónima de falta de higiene e de organização. Posso imaginar que o seu crescimento económico só tem uma razão a explica-lo: a força dos números de quem ainda tem a maior população do planeta.
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