Em 2014 as livrarias francesas acolheram um título da autoria de um jovem escritor, Édouard Louis, que se converteria num enorme sucesso de vendas. «En finir avec Eddy Bellegueule» contava como o autor se descobrira homossexual desde muito cedo e, por isso mesmo, se vira no foco das humilhações dos familiares e dos vizinhos da aldeia da Picardia onde vivia. Um sítio onde, nas recentes eleições regionais, a Frente Nacional conseguiu votações acima dos 60%.
O romance autobiográfico estava escrito com muito talento e denunciava essa França provinciana eivada de preconceitos homofóbicos.
Nesta nova temporada literária, Édouard Louis volta a estar em foco com o seu novo romance «Histoire de la violence», onde aborda a terrível experiência vivida em 2012.
No site da Seuil é assim, que ele a descreve: “Encontrei Reda numa noite de natal.
Regressava a casa pelas quatro da madrugada depois de jantar com amigos.
Ele abordou-me na rua e acabei por o convidar para o meu estúdio. Foi assim que me contou a história da sua infância e da chegada a França com o pai, que fugira da Argélia.
Passámos o resto da noite juntos a discutir e a rir quando, pelas seis da manhã, puxou de um revolver e anunciou o propósito de me matar. Insultou-me, estrangulou-me, violou-me.
No dia seguinte fui ao hospital e fiz queixa à polícia.
Mais tarde a minha irmã serviu-me de confidente e ouvi-a repetir a história à sua maneira.
Ao regressar à minha infância, mas também à vida de Reda e do seu pai, ao refletir sobre a emigração, o racismo, a miséria, o desejo e os efeitos do trauma sofrido, quis compreender o que se passara naquela noite. E, através dela, esboçar uma história da violência”.
O romance acaba por ter por tema o momento em que essa violência se revela e o que subjaz a esse súbito instinto assassino. Louis vai fazê-lo através de três vozes distintas: a dos polícias, que recebem a queixa e revelam o seu racismo larvar; a irmã que imaginou reencontrar na região natal e logo conta ao marido, um camionista, a sua versão dos acontecimentos, e os comentários do narrador enquanto a ouve nesse relato.
Nalguns aspetos Louis desvia-se dos estereótipos consagrados sobre o tema: confessa ter-lhe sido mais dolorosa a sensação de que ia morrer do que a violação em si e em como, desde então, não terá conseguido dissociar-se ele mesmo de uma certa reação atávica de racismo em relação aos magrebinos ou aos negros. Mas não deixa de reconhecer o efeito de catarse, que esta tradução literária dos seus tormentos, potencia...
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