sexta-feira, janeiro 08, 2016

SONORIDADES: A melhor lição que Pierre Boulez nos deixou

Sobre o desaparecimento de Pierre Boulez houve quem escrevesse excelentes textos, que seria estultícia tentar superar. As quatro páginas do «Público» a ele dedicadas na edição de 7 de janeiro são uma boa sugestão de leitura para quem ficou surpreendido com a notícia da morte de um dos grandes vultos da cultura europeia no século XX.
Não é, pois, por esse lado que pretendo evocar Boulez. Prefiro outro, o de me ter habituado a frequentar concertos de música erudita nas grandes salas lisboetas (Gulbenkian, CCB) e, frequentemente, encontrar no programa uma obra do século XX a iniciá-lo, ou incluída entre duas de apreciação mais facilitada para um público rendido aos cânones dos sons do século XIX.
Como pressupunha a publicidade sobre a coca-cola, primeiro estranhei, depois entranhei.  Desconhecia, de início, que tinha sido Boulez um dos maiores responsáveis por essa reformatação do gosto desse público tendencialmente conservador, avesso a confrontar-se com algo distinto dos padrões em que se sentiria mais confortavelmente cristalizado.
Compositor de muitas obras desafiadoras, Boulez sempre foi um homem inconformado com os preconceitos e, por isso, não temeu a provocação, quando se associou à proposta de Patrice Chéreau para a encenação de «O Anel dos Nibelungos» no Festival de Beyreuth em 1976.
Quem conheceu essa polémica, soube o quanto ela teve de épica, perante um público apostado em defender a abordagem convencional como se ela fosse um dogma.
Ora os dogmas sempre foi o que Boulez execrou, e essa foi a melhor lição que dele podemos receber...

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