É possível gostar imenso de um tema musical e saber que representa algo de tão terrível como o foram os tanques hitlerianos a avançarem, imparáveis, nas estepes russas a caminho de Leninegrado?
A resposta é positiva e a demonstração está nesta proposta em que vemos o maestro Valery Gergiev a dirigir a Orquestra do Teatro Marinsky na interpretação da 7ª Sinfonia de Shostakovich.
Composta durante o cerco da grande cidade do Báltico, ou seja entre 1941 e 1942, sabe-se que decorreu de um trabalho intenso do criador desta obra-prima que, assim, quis responder ao medo e as privações ali conhecidas.
Para ilustrar o avanço das tropas hitlerianas, Shostakovich inspirou-se num dos compositores, que Hitler mais apreciava - Franz Lehar - e a uma das mais conhecidas árias da sua «Viúva Alegre».
Nos cabarés vienenses, que o futuro ditador frequentava nos anos 20, essa ária era uma das mais apreciadas.
Experimente-se ir então para os 7 minutos deste clipe, quando um tambor começa a ouvir-se como se estivesse ao longe e, pouco a pouco, os demais naipes da orquestra vão-lhe repetindo a toada numa construção, que lembra o Bolero de Ravel.
À medida que os vários instrumentos se vão justapondo, o volume aumenta, adensando a sua intensidade dramática.
Antes de se chegar ao 2º andamento («moderato»), que ilustra o cerco à cidade, todo este alegretto pretende evocar a temível invasão teutónica… e consegue ser extremamente sedutora aos nossos ouvidos de melómanos...
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