sábado, janeiro 02, 2016

ARTES VISUAIS: São os animais compatíveis com a criação artística?

Está aberto o debate em França sobre a utilização de animais em espetáculos desde que Easy Rider participou nas oito récitas da ópera »Moisés e Aron» no Teatro da Ópera-Bastille. Em todas elas o touro escutou, impassível, a música dodecafónica de Arnold Schönberg cumprindo o que para ele determinara o encenador Romeo Castellucci.
Na primeira parte surge numa gaiola transparente como encarnação do Vitelo de Ouro. Na segunda é puxado para uma posição em que um dos figurantes deita sobre ele um balde com um liquido negro. Nessa altura a sala fica estática, com os olhos fixos no animal, sem que os cantores ou a bailarina nua cativem a atenção.
O animal sai-se bem da incumbência, mas não é caso único em espetáculos recentes nos palcos franceses. No «Castelo do Bárbara Azul» de Bela Bartok, levado à cena na Ópera-Garnier, aparecem um coelho e um cão, enquanto cavalos participam na «Penélope» de Fauré em Estrasburgo e na «Maldição de Fausto» de Berlioz, em Lyon.
Ainda no território das artes cénicas, em abril os espectadores da peça «Acidentes», produzida em Montpellier, viam um ator pegar numa lagosta viva, cozinhá-la e comê-la no palco. Graças a um microfone colocado no crustáceo ouvia-se na plateia o coração do animal a bater antes de morrer.
Ao ouvirmos a justificação do encenador Rodrigo Garcia - segundo o qual a peça pretenderia evocar o regresso à natureza, que implicaria matar animais para sobreviver, ao mesmo tempo que metaforizaria a ditadura argentina - só a podíamos considerar absurda, se não mesmo sórdida.
Passando para outros terrenos artísticos também neles se coloca a questão de aceitar ou rejeitar o recurso aos animais para os integrar na criação artística.
Desde 1997, que o artista belga Wim Delvoye acredita na legitimidade dessa utilização, quando tatuou o seu primeiro porco. Na China compra uma fábrica para se dedicar à suinicultura, tatuando os leitões e deixando-os depois crescer. Quando os mata, fá-los mumificar, expondo-os como obras de arte resultantes do seu desenho original e da evolução por eles assumida com o crescimento do animal.

Anteriormente o alemão Joseph Beuys criara uma performance, que consistia na partilha do mesmo espaço com um coiote durante três dias. Foi em Nova Iorque em 1974.
Mais interessante a obra do argentino Tomas Saraceno, que cria aranhas para vê-las criar as suas teias, por ele depois utilizadas para formar delicadas esculturas. Uma delas - «Uma breve história do futuro» - está exposta no Louvre.
Para concluir esta abordagem das diversas utilizações dos animais na criação artística, quedemo-nos nos trabalhos fotográficos do americano Brandon Ballengée, que se focalizou nos animais - por exemplo rãs - deformados pela deterioração dos seus ecossistemas. Pretende assim evocar as consequências danosas do Homem na natureza...


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