Hoje tivemos a demonstração prática dos equívocos provocados por um preconceito. Que podem trazer vantagens ou desvantagens consoante o ponto de vista.
Passo a explicar: nas últimas semanas, com a atividade militante em prol do candidato presidencial em que acreditávamos (Sampaio da Nóvoa) não tivemos disponibilidade para nos informarmos devidamente sobre a oferta cultural na capital.
Para recuperar o atraso acorremos ao Nimas e vimos o último Moretti, que esteve à altura das sempre altas expectativas colocadas nas obras do italiano.
Foi nos trailers antes da visualização desse filme, que vimos o de outro com bastante interesse: «Sítio Certo, História Errada» do sul-coreano Hong Sang-soo e logo o associámos a outro, que andará, algures por aí, em que só no final se descobrirá estar o protagonista morto e, assim, se possuir uma leitura diferente da sugerida inicialmente.
Pusemo-nos, pois, a ver o filme com essa «chave», que nos permitiria apreciá-lo de forma mais informada e atenta aos pormenores, que a indiciassem.
Inicia-se a primeira cena e deparamo-nos com a história de um realizador conceituado, Ham Cheon-soo, que tem um dia desocupado em Suwon, enquanto espera pela apresentação de alguns dos seus filmes no dia seguinte.
É assim que descobre uma belíssima jovem no templo onde decidira descansar. Ela é Yoon Hee-jeong, uma artista plástica com quem sente imediata empatia. Nas horas seguintes passeiam pela cidade, vão ao estúdio dela, jantam e reúnem-se com alguns amigos. Até que, embriagados, concluem a noitada à porta da casa dela, onde a progenitora a aguardava, angustiada.
Iremos assistir a duas variações dos mesmos jogos de sedução, o primeiro mais contido, o segundo mais descontrolado pela embriaguez.
Chegados ao genérico final, concluímos que estivéramos equivocados todo o filme, associando-o a outro com que nada tinha a ver.
A vantagem do equívoco foi dispensarmos uma atenção acrescida aos pormenores, sempre na expectativa de nos entreolharmos e concluirmos: «cá está!».
A desvantagem foi perdermos de vista um projeto muito minimalista em que se conjugam poucos atores e cenários para ilustrarem uma história, que mais não constitui do que pretexto para justificar a principal característica de Hong Sang-soo, segundo o escreve Jorge Mourinha, no «Público» de 20/1/2016: é “um cineasta para quem o que interessa verdadeiramente são os pequenos momentos a que mais ninguém presta atenção e que acabam por fazer a diferença na nossa vida”.
Foi ainda com a experiência de espectadores surpreendidos (e que bom é constatar esse efeito por algo que vemos, lemos ou ouvimos!), que procurámos informações sobre o realizador e soubemos já ter assinado 16 filmes em 18 de carreira e todos eles se assemelharem a este na forma como coloca personagens a fazerem e a falarem das coisas simples, mas sempre na lógica de uma comunicação, que se estabelece e os desvia da abulia.
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