Há uma dúzia de anos algumas das maiores editoras francesas envolveram-se numa batalha, que chegou à barra dos tribunais, para disputarem o direito de publicarem este romance de Shan Sa. A perspetiva de se tratar de um bestseller era tão óbvia, que elas procuravam garantir um significativo êxito comercial.
Treze anos depois o que a leitura me sugere é tratar-se de demasiada pólvora para um rastilho tão curto. Se a biografia da autora tinha alguns aspetos interessantes - saíra da China depois dos acontecimentos da Praça de Tiananmen e tornara-se na assistente do pintor Balthus - o que estava em causa era uma história passada no século VII, quando uma rapariga obstinada consegue vencer os tabus da sociedade de então e converter-se na poderosa Imperatriz de uma dinastia, que ela funda e com ela morre.
Aos treze anos fora trazida da distante província onde nascera para a capital a fim de integrar o harém de concubinas do soberano então no trono.
Nunca tendo sido requisitada para o leito do monarca, o seu destino poderia ficar traçado de forma trágica, se não tivesse, entretanto, conhecido o Pequeno Faisão, o príncipe herdeiro, que por ela se afeiçoa.
Após um intervalo num mosteiro budista ela regressa à capital para cumprir os sucessivos degraus da escala hierárquica feminina na corte até conseguir casar-se com o novo Imperador. Pelo meio intrigara e fora alvo de intrigas bastantes para umas quantas mulheres do harém acabarem por morrer.
A forma heterodoxa como chegara ao estatuto de esposa do soberano poe-la constantemente de sobreaviso contra as conspirações, que se preparam e se desfazem continuamente para a colocarem em xeque. E, porque são muitas as noites em que o Pequeno Faisão se entretém noutros braços, ela descobre o prazer com outras concubinas. Mas, calculista, decide evitar os sempre complicados bastardos, futuramente capazes de disputarem a sucessão aos seus próprios filhos, não hesitando em convocar para a corte a própria irmã com o propósito de também ela satisfazer incestuosamente os desejos sexuais do esposo.
As conspirações provirão, porém, dos próprios filhos, que, desde cedo, questionarão as competências do pai para se manter no trono. E, implacável, ela não hesita em condená-los!
Quando enviúva não existe um herdeiro capaz de suceder ao pai, pelo que ela assume a regência do Império, até ser entronizada como soberana inquestionável. É por essa época que, para escândalo da corte, descobre o prazer dos orgasmos através de jovens gigolos, que agracia com ricas prendas e títulos.
Até a velhice a fragilizar - já octogenária! - o seu reinado será uma sucessão ininterrupta de conspirações derrotadas e de muito sangue por elas derramado.
Não admira que, enquanto o lia, me questionasse se Shan Sa estava, de facto, a respeitar a verdade histórica, se a criar uma metáfora em torno da história da China comunista com as suas turbulências, ora num sentido mais ortodoxo, ora numa viragem mais pró-ocidental. Com as suas Revoluções e contrarrevoluções. E fiquei sem a resposta...
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