quinta-feira, janeiro 14, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Carol» de Todd Haynes

Será provavelmente um dos grandes filmes deste ano, porque reproduz o que seria um outro em que Greta Garbo encontrasse Audrey Hepburn e ambas protagonizassem um grande melodrama realizado por Douglas Sirk.

Adaptando um romance de Patricia Highsmith (“The Price of the Salt”), Todd Haynes mostra-nos a paixão assolapada de Carol Aird por Therese Belivet, que encontra nos armazéns Frankenberg na época natalícia de 1952.

Burguesa, sempre cumpridora da função decorativa, que a sociedade parecera atribuir-lhe, Carol está em processo de divórcio contra o marido, um homem muito rico, que lhe quer retirar a guarda da filha de ambos ao invocar a “cláusula da moralidade”, suscitada pela relação amorosa por ela mantida com uma amiga de infância.

Este novo amor só irá dar provas acrescidas para um julgamento, em que está, a priori, condenada.

A partir daí o filme transforma-se num road movie por estradas cobertas de neve entre Nova Iorque e Chicago e em que elas parecem cada vez mais isoladas na sua campânula protetora. Nos quartos dos motéis onde se alojam só existem para a mútua expressão dos afetos. É o primado absoluto dos sentimentos contra a relatividade das regras sociais.

Nesse sentido o filme lembra, inevitavelmente, o primeiro em que demos pela assinatura de Todd Haynes: em 2002, Juliane Moore era a dona-de-casa de “Longe do Paraíso” a quem a chocante descoberta da homossexualidade do marido atirava para os braços de um negro, vendo-se assim motivo de troça de todos quantos a rodeavam.

Desde então Todd Haynes parece ter-se especializado na abordagem de prisões morais  em que, tal qual sucedia nos filmes do citado Douglas Sirk, a transgressão de um personagem causa uma reação em cadeia, que a todos faz sofrer.

Cate Blanchett e Rooney Mara já ficam sinalizadas para as nomeações dos Óscares, bem como a fotografia de Ed Lachman, rica em cores vivas de acordo com os vestidos verdes ou vermelhos da protagonista e com uma iluminação irrepreensível.

O que mais impressiona no filme é a capacidade para nos convencer em como, a despeito das máscaras hábeis com que se disfarça, o moralismo nunca cede. Esconde-se e espera pela hora certa para fazer xeque-mate.

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