Muito embora as melhores experiências teatrais vividas tenha-as conhecido muito depois, graças ao Bando - refiro-me a «Ensaio sobre a Cegueira» em 2004 e «Quarentena» em 2014 -, nunca terei vivido época tão exaltante como a dos anos logo após o 25 de abril de 1974.
Os trabalhos então apresentados pela Comuna, pela Barraca, pelo Teatro do Mundo e por outras companhias independentes apostadas em fazer do palco uma festa e da Revolução um tema quase permanente, fica-me como uma enorme saudade.
As décadas foram passando, da festa ficou a memória de uma utopia adiada e passámos a encontrar propostas viradas para a vocação individualista dos seres, que julgáramos incontornavelmente gregários.
Peças houve em que o pessimismo atingia tal dimensão, que o incómodo gerado nada teve de produtivo, porque nem sequer capaz se mostrava de gerar uma qualquer vontade de reação a algo aparentemente indestrutível.
Aqui e além foram surgindo alguns vislumbres de uma outra alternativa de vida: por isso mesmo «Quarentena» figura como a peça que escolheria como a melhor de quantas vi.
No caso de «O Tempo», que está a ser apresentada pelos Artistas Unidos, mantem-se a sina de se tratar de proposta deprimente. Não é que anseie pela falsa alegria encenada à moda do La Féria, mas já faz falta ver os palcos em sintonia com uma sociedade onde se começam a ver sinais de uma esperançosa mudança. Já andamos tão tristes, que nos faria bem algo capaz de atiçar a nossa vontade de reencontro com a esperança...
Sem comentários:
Enviar um comentário