Li «OssO» enquanto as televisões passavam reportagens infindas sobre os atentados terroristas em França.
Alguns dirão ser politicamente incorreto vir abordar o mais recente romance de Rui Zink, quando ele constitui uma saborosa comédia feita de diálogos entre um terrorista e o seu carcereiro numa altura em que ainda estão presentes as memórias das cento e trinta vítimas mortais de Paris.
Mas se até no gueto de Varsóvia, sujeitos à fome e ao frio, os sitiados conseguiam contar anedotas, é caso para lembrar que, muitas vezes, rir é também um bom remédio quando nos encontramos no meio da tragédia.
A inteligência de Rui Zink leva-o a criar uma cumplicidade crescente entre o terrorista - capturado antes de conseguir fazer explodir a bomba!- e o seu carcereiro e torturador. A empatia cresce de tal forma, que o carcereiro acaba encarcerado, porque mostrava uma ambígua sintonia com as perspetivas do seu prisioneiro.
Juntar forças e escapulirem-se da prisão passa então a ser o principal objetivo do terrorista por muito que o companheiro de cela não acredite na viabilidade dos seus planos. Mas a realidade é que ambos acabam por se livrarem da cela, mesmo não se tratando da forma mais desejada pelo cúmplice involuntário.
No final, Zink conta uma pequena história em jeito de moral, e que me fez rir com gosto: “Um terrorista entra num bar com uma bomba na mão. O dono do bar avisa que tem de deixar a bomba lá fora. O terrorista diz-lhe: estava a brincar, eu não sou um terrorista, olhe só, isto não é uma bomba, é um isqueiro. E, para mostrar que é verdade, acende o isqueiro. O dono do bar replica, com ar triste: eu também estava a brincar, isto não é um bar, é um posto de gasolina.
Sem comentários:
Enviar um comentário