Poderá haver alguma relação entre os mecanismos que regem o pensamento humano e a física quântica?
Em princípio seríamos levados a crer que não, mas não é essa a opinião de alguns cientistas dispostos a defenderem a similitude das mesmas leis utilizadas pelo discurso interior da alma humana e pelo comportamento da matéria no universo do infinitamente pequeno. Segundo eles, no menor dos nossos pensamentos, no encaminhamento interior que nos leva a tomar uma decisão, nas reflexões e associações de ideias, tudo segue uma lógica quântica.
Trata-se de uma tese, que põe em causa a nossa suposta aceitação das regras da lógica clássica e do pensamento cartesiano, atirando-nos para uma interpretação tão vertiginosa, quanto inédita, do que se passa no cérebro.
Recordemos que a mecânica quântica permite descrever o comportamento da matéria microscópica com uma precisão tão certeira, quanto bizarra, porque afasta-nos das leis constatáveis no mundo visível.
Nesse universo quântico, uma partícula pode também ser uma onda, que passa simultaneamente por sítios diversos, ou influencia ou é influenciada por outra dela distante no espaço e no tempo.
Mas haveria alguma razão para que tal propensão para escapar à lógica clássica estivesse reservada às partículas? Poderiam ser quânticos os nossos neurónios?
Jerome Busemeyer, um dos cientistas da Universidade de Indiana (EUA) envolvidos na investigação conducente a estas teorias, alerta para o facto de não estar a defender que o nosso cérebro seja uma espécie de computador quântico. As bases neuronais serão investigadas a posteriori, limitando-se a investigação atual aos fenómenos cognitivos. Quer isto dizer que não é o funcionamento biológico dos neurónios a estar em causa no curto prazo, mas tão-só a forma como tratam a informação para chegarem a conclusões.
Vejamos um exemplo, que poderá explicitar mais eficientemente esta questão: estamos num restaurante e o criado insta-nos a escolher entre o queijo e a sobremesa.
Se nos mantivermos no enquadramento da psicologia clássica a decisão pretendida depende de um número significativo de variáveis e cálculos alteráveis a cada momento. Por isso, qualquer das três possibilidades em causa - o queijo, a fruta ou nenhum dos dois - dependerá da correlação de todas essas variáveis no instante da decisão.
Numa abordagem quântica poderemos não ter nenhuma opinião sobre o dilema em causa, ou poderemos ter todas em simultâneo. Será aquilo que se designa como «sobreposição de estados», em que sentimos vontade de comer queijo e sobremesa. É o que sucede na Física com uma partícula a encontrar-se em estados diferentes ao mesmo tempo. Só quando a medimos é que ela é reconhecível num dos seus estados.
Os Físicos olham para os psicólogos e veem-nos a contas com os mesmo dilemas em que eles próprios se viam no primeiro quartel do século XX, com resultados experimentais capazes de desafiarem todo o entendimento.
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