Nos muitos anos em que naveguei pelos sete mares e aportei a (quase, porque me faltou a Antártida!) todos os continentes, vi céus de todas as cores existentes na paleta do arco-íris. Das auroras aos crepúsculos, culminando nas noites mais escuras ou mais claras, o firmamento esteve sempre focalizado na minha atenção de encantado observador das novidades propiciadas por cada dia. Mas afianço sem rebuços nacionalistas, que nunca encontrei luz como a de Lisboa. Nem mesmo no azul espelhado nas alvas casas de Santorini ou na pureza despoluída do Ártico, o sol me pareceu tão superlativamente límpido.
A luz de Lisboa bem merece a consagração da exposição agora inaugurada no Torreão Poente do Terreiro do Paço. Porque constitui um mistério, que poetas, fotógrafos, cineastas e cientistas poderão ajudar a explicar em detalhe, mas sem conseguirem dar corpo à resposta cabal, que só a convergência das emoções de todos os sentidos poderá fazer pressentir.
E, pessoalmente, se ela me deu o ensejo de grandes alegrias, também está associada a uma das grandes tristezas da minha juventude: em 1977, quando embarcado no navio-tanque «Montemuro», já passara quatro meses a bordo, nele entrei Tejo adentro para uma curtíssima arribada destinada a receber uma qualquer peça necessária às reparações a bordo.
O dia estava, como quase sempre, deslumbrante. E essa sensação de Lisboa estar ali a umas centenas de metros e não a poder sequer palmilhar por um curto instante, tornou ainda mais difícil o início de nova viagem de dois meses até ao golfo Pérsico!
Decerto terei essa memória em mente quando, um dia destes, visitar demoradamente esta exposição!
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