Como se pode representar o horror? O cinema e a fotografia já exploraram todas as formas possíveis de explicitar as consequências das guerras, quase banalizando as imagens profundamente violentas apresentadas nos nossos ecrãs.
No entanto, em «Concrete», a israelita Nurit Kedar, conhecida pela meritória carreira de realizadora e argumentista de documentários, concebeu uma forma inovadora para denunciar a intervenção israelita de 2009 no território de Gaza. Ela convidou diversos ex-soldados envolvidos nessa operação a contarem as experiências vividas perante a câmara e o que sobressai é a desumanização neles suscitada por mecanismos de manipulação psicológica, tornando-os acríticos em relação aos crimes cometidos. Como diz um deles essa alienação começou cedo quando, no início da adolescência, fora impelido a participar em cerimónias de glorificação de militares, que nem sequer conhecera, mas apresentados como heróis a venerar.
Ao contrário da maioria dos filmes sobre o tema, não existem imagens com cadáveres ou ensanguentados. A violência explicita-se nos relatos verbais dos que falam, agora com distanciamento, de tudo quanto tinham vivido, e em imagens com lençóis desalinhados, que sugerem o caos vivido pelos palestinianos nas semanas decorridas nessa intervenção.
É, por isso mesmo, um filme interessantíssimo por contribuir para a denúncia do paradoxo de vermos como os filhos e os netos das vítimas do Holocausto conseguiram criar em si características de verdugos...
Sem comentários:
Enviar um comentário