À medida que vou avançando na tardia descoberta da escrita de Alice Munro vou encontrando aspetos comuns nos vários contos, que integram a coletânea «O Progresso do Amor». Apesar de não terem mais do que uma dúzia de páginas, as histórias envolvem sempre um pequeno grupo de personagens ligados por afetos desencontrados e imperativos éticos ou familiares, que correspondem a verdadeiras obrigações.
O «Monsieur les deux chapeaux» desta história é Ross, cujo aspeto de falhado e o “olhar lúbrico e inocente» não corresponde propriamente a algum atraso mental. Trata-se de um feitio singular que, Colin, o irmão mais velho, sentirá eventualmente ligado a um episódio de infância quando, na festa do 25º aniversário de casamento da mãe, Sylvie - ela própria algo excêntrica ou não comemorasse a efeméride, apesar de já separada do marido! - quase atingira o irmão com um tiro disparado pela pistola, quando lha tentava tirar das mãos.
O dramatismo da história não reside, porém, aí, mas em algo que pode prever-se para um futuro indefinido: entusiasmado pela ideia de reconstruir um carro, Ross aplica-lhe um motor mais potente, retirado de outra viatura. E é Nancy, uma professora, colega de Colin, cuja turma dera a alcunha a Ross, quem aventa a forte probabilidade do desajuste desse motor para tal carroçaria, potenciando a quebra do eixo e o possível acidente.
Doravante Colin ficará em ânsias para que nunca o irmão convide a esposa e a filha a darem um passeio naquele perigo com rodas.
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