Ao que se sabe as condições de detenção domiciliária do cineasta Jafar Panahi têm-se aligeirado, apesar de continuar impedido de mostrar as suas obras no seu país. É curioso como ele vai testando continuamente o nível de repressão a que o regime dos ayattollahs o vai sujeitando, mandando às urtigas a proibição para não filmar durante vinte anos e saindo de casa para registar o estado das coisas nas ruas de Teerão.
Se em “Isto não é um Filme” conseguia rodar uma longa-metragem sem quase sair da sua sala de estar, em “Táxi” ele retoma um tipo de narrativa já ensaiada por Abbas Kiarostami em “Dez”, mas com um fio condutor a nível do argumento, que rejeita a lógica de sketches do seu compatriota.
A facilidade com que se executam pessoas, a censura através da qual o regime pretende manter a sua juventude no desconhecimento do cinema ocidental ou a pobreza responsável pelo crescimento da delinquência são alguns dos temas abordados por Panahi no filme em que assume o lugar de um taxista e vai partilhando o seu espaço em movimento com outras pessoas.
Há também a evidência das crendices populares, as palas com que a escola tenta cercear a liberdade das crianças ou as dificuldades das viúvas se não tiverem a defendê-las um testamento do marido quanto à ganância dos familiares.
Não estamos perante uma obra-prima, e nem o próprio Panahi o pretenderia. Mas temos aqui um testemunho muito impressivo sobre o que se passa hoje em Teerão. Uma sociedade feita de pessoas iguais a nós quanto às suas preocupações e ambições, mas com um regime político difícil de apear.
Como instrumento militante destinado a mexer alguma coisa nesse contexto, “Táxi” cumpre muito bem a sua missão. Até porque não tenhamos dúvidas: por muito que a censura impeça a sua ampla divulgação, ele andará agora de mão em mão através da clandestina distribuição de filmes, que constitui promissor negócio no Irão dos nossos dias.
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