É o conto mais longo da coletânea «O Progresso do Amor», que me deu o ensejo de conhecer o universo e a escrita da canadiana Alice Munro, já depois de a ver galardoada com o Nobel.
Do que dela tenho conhecido, confesso-me longe da rendição. Só para falar de vizinhos do sul, a Academia Sueca bem poderia ter optado por Don DeLillo ou James Salter se a ideia era premiar um autor da América do Norte. Mas bem sabemos como os desígnios do júri de Estocolmo são quase tão insondáveis como os que se atribuem a Deus.
Temos agora como protagonista a primogénita de um casal de agricultores. Opal Violet, que cedo descobre uma evidência: “no mundo que ela conhecia, havia sempre muitas coisas obscuras e os adultos gostavam pouco de que lhes fizessem perguntas.” (pág.210).
Cumprido o liceu ela está a estudar para professora, quando se enamora de Trevor Auston, ele próprio a acabar a ordenação para pastor da Igreja Unida, uma religião ainda mais severa do que a Anglicana a que ela se habituara em criança. Mas o noivado dissolve-se, quando ele compreende a impossibilidade de nela detetar as características de mosca morta, que considerava imprescindíveis à condição de mulher de um clérigo.
É que cartas anónimas a ameaçarem de morte os pais obrigam-na a voltar a casa e a descobrir quem afinal as escrevia: a sua irmã Dawn Rose, que parecia padecer de uma espécie inquietante de loucura. Torna-se incontornável o dever de ali ficar para dar alguma aparência de ordem à desestruturação evidente da família.
Os anos passam e o pai morre. Depois, as irmãs empregam-se na fábrica de sapatos e casam, deixando-a sozinha em casa com a mãe. Violet está então empregada nos escritórios da empresa municipal de telefones e a partida da maioria dos homens para a Segunda Guerra Mundial facilita-lhe a rápida promoção a gerente.
Dawn morre de trombose, cabendo a Violet cuidar do sobrinho Dane, a quem não passa despercebida a relação clandestina da tia com Wyck Tebbutt, um agente de seguros que, em tempos, jogara basebol.
Numa história, que decorre ao longo de várias décadas, voltamos a encontrar Dane como adulto a viver da sua profissão de arquiteto e partilhando a casa com o amante, Theo, que é assistente social.
Não tardará que esse sobrinho assista à progressiva degenerescência de Violet: ela chega a pegar fogo à sua casa, quando decide queimar uns papéis. Três dias depois morre no hospital, talvez de reação retardada ao choque causado por tal sinistro.
O que dizer de uma história tão anódina? É verdade que está bem escrita, com personagens mais consistentes do que a sua eventual redução a estereótipos se caíssem na alçada de escritores menos talentosos. Mas pode estranhar-se que Alice Munro, tanto afiance ter sido Violet a primeira a comprar carro na sua região natal, e páginas depois dê essa “honra” a uma vizinha de Annabelle, quando a protagonista ainda nem sequer ali se voltara a radicar.
Após mais de duzentas páginas lidas, posso já concluir que a escrita de Alice Munro alimenta-me alguma curiosidade, mas desperta-me um entusiasmo assaz comedido...
Sem comentários:
Enviar um comentário