Já o primeiro quartel do século XIX se concluíra, quando Maria Malibran - a grande soprano da época -, viu em Londres um espetáculo com uma trama, que lhe interessava: os amores entre uma camponesa e um grande senhor, inicialmente tidos por este como um divertimento, mas com a sua rendição incondicional quando pressentiu o fim abrupto daqueles encantos.
De regresso a Paris a cantora contactou Jacques-Frommental Halévy, na altura a trabalhar no Thêatre des Italiens, para que lhe compusesse uma obra com o mesmo tema.
Surgiu assim a ópera «Clari», que Malibran protagonizou na estreia ocorrida em 9 de dezembro de 1828 naquele mesmo teatro.
Na época a crítica foi entusiástica pela surpresa e ligeireza conseguida pelo compositor, que virou costas à grandiloquência da ópera tradicional e adotou um estilo italiano, que justificou com a classificação de «ópera semiseria».
Oitenta anos depois encontramos Cecilia Bartoli a protagonizar o mesmo papel num espetáculo estreado na Opernhaus de Zurique.
Fã confessa da antecessora, muito embora nunca possamos ter uma ideia concreta da excelência da sua voz tendo em conta o quanto ainda faltava para se inventarem os primeiros registos fonográficos, Bartoli interpretou o papel de Clari com entusiasmo contando com John Osborn num competente Duque e com uma encenação apostada em cores claras e primárias a que alguma crítica torceu o nariz por distrair o espectador daquilo que supostamente o deveria mais interessar: a grande música de Halévy.
A relevância atribuída por Cecilia Bartoli ao reportório de Maria Malibran foi tal que, posteriormente, lhe dedicaria um disco por inteiro.
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