Nos seus tempos áureos, Hitchcock levava alguns críticos a considerar possível um filme seu, inteiramente passado numa cabine telefónica e com o seu eficiente suspense.
«Locke», o filme realizado por Steven Knight em 2013, demonstra a possibilidade de tal ser possível, já que tem como cenário único o interior do carro, onde um homem atrapalhado percorre a longa estrada entre Birmingham e Londres.
Se pretendêssemos uma demonstração da Lei de Murphy, esta história poderia perfeitamente adequar-se: de início Ivan Locke é um bem sucedido técnico de cofragens, que ganha bem a vida e tem uma família estável com uma mulher, que ama, e dois filhos com quem tece cumplicidades futebolísticas.
Só que, na véspera de uma operação de betonagem para um enorme arranha-céus, a amante ocasional de uma noite de copos, sete meses atrás, liga-lhe da maternidade a informá-lo da iminência do parto prematuro do filho dele.
Ora, muitos anos atrás, ele fora o filho enjeitado de um homem em circunstâncias semelhantes às que agora se encontra. E nunca lhe tinha desculpado a cobardia. Por isso, mesmo perdendo o emprego e a família, ele dirige-se a Londres para assumir a responsabilidade pelo seu erro. Porque ele nem sequer tem afeto por essa mulher frágil, já quarentona, com quem cometera adultério pela primeira e única vez na vida. Mas importa-lhe sobretudo o que essa criança à beira de nascer, irá pensar dele. Por isso mesmo, quase à chegada ao seu destino, ele sabe que há circunstâncias, que não oferecem possibilidades de retrocesso. E que as escolhas nem sempre incluem as que ele mais desejaria encontrar.
Feito de conversações telefónicas com diversos interlocutores, além de consigo mesmo, o filme tem uma intriga credível e conta com o excelente desempenho de Tom Hardy.
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